Ancestral humano descoberto há pouco tempo, o Homo naledi tinha hábitos que não se esperava de uma espécie com cérebro tão pequeno.
“Contatos extraterrestres relatam eras em que a Terra foi povoada por várias civilizações cósmicas. Espécies humanas antes desconhecidas vêm sendo descobertas! Seriam sobreviventes dos cataclismos que destruíram essas civilizações? Resposta no nosso artigo para a Revista Cosmovni nº 6! Aguardem em companhia do Homo Naledi!” Lallá Barretto.
Uma espécie de hominídeo descoberta há pouco tempo vem desafiando o entendimento da ciência sobre o que nos torna humanos. Agora, paleontólogos encontraram indícios em um sistema de cavernas na África do Sul que revelam algo surpreendente sobre o Homo naledi, primata descrito pela primeira vez em 2015.
De acordo com o artigo que relata a pesquisa, disponibilizado na segunda-feira (5) no servidor de pré-impressão bioRxiv e aguardando revisão por pares, esse nosso ancestral de cérebro pequeno apresentava hábitos que, até então, tinham sido detectados pela primeira vez apenas nos neandertais e nos Homo sapiens.
Os autores do estudo afirmam que os achados na caverna ilustram um dos primeiros exemplos de rituais de sepultamento e oferecem as primeiras evidências de múltiplos enterros e ações funerárias. Além disso, o Homo naledi pode ter sido o primeiro grupo de hominídeos a fazer uso de simbologias – o que prova que essa capacidade não está relacionada ao tamanho do cérebro, como se pensava.
Esses dados questionam vários pressupostos-chave sobre a evolução comportamental e cognitiva em hominídeos do Pleistoceno.
“Estamos olhando para um comportamento cultural que é muito humano em uma espécie que tem um cérebro com um terço do tamanho do nosso”, disse John Hawks, paleoantropólogo da Universidade de Wisconsin-Madison e coautor do estudo. “Isso contradiz a ideia de que foi o tamanho do cérebro que nos tornou humanos”.
Quem era o Homo naledi
Evidências fósseis sugerem que o Homo naledi viveu entre 241 mil e 335 mil anos atrás dentro de um sistema de cavernas denominado “Estrela Ascendente”, que fica nas redondezas da atual Joanesburgo, a maior cidade da África do Sul.
Embora a parte inferior do corpo, os pés, as mãos e os dentes desse primata tivessem aspectos que pareciam humanos, sua estrutura média de 100 quilos e 1,50 m carregava um cérebro do tamanho de uma laranja – semelhante ao dos chimpanzés.
“Nunca tivemos uma criatura que manifestasse a nossa complexidade além de nós mesmos”, disse Lee Berger, paleoantropólogo e explorador residente na National Geographic, também coautor da pesquisa. “O Homo naledi ameaça a narrativa muito claramente definida da ascensão do excepcionalismo humano”.
Tanto Berger quanto Hawks fizeram parte do grupo de pesquisadores que descobriu a espécie há oito anos no subsistema “Estrela Ascendente”, que recebeu esse nome porque naledi significa estrela em um dialeto sul-africano.
Composto por múltiplas câmaras, o local tem um acesso extremamente estreito, o que dificultou a entrada dos cientistas.
Um esforço internacional possibilitou a descoberta de mais de 1.500 ossos pertencentes a indivíduos Homo naledi em uma das câmaras do labiríntico espaço.
Essa abundância de ossos permitiu à equipe de pesquisa reconstruir um esqueleto completo e cerca de 15 parciais. Eles também encontraram evidências de uso de fogo, incluindo lareiras e ossos carbonizados.
Abundância de ossos no local intrigou os cientistas
Na época, um dos maiores mistérios em torno da descoberta dessa nova espécie de hominídeo era como tantos ossos foram parar naquele lugar. Algumas hipóteses foram levantadas pelos paleoantropólogos.
Uma delas sugeria que um grupo desses indivíduos teria morrido, todos juntos, dentro da caverna. Outra possibilidade pensada foi que um deslizamento de terra ou inundação teria levado os ossos para dentro dali. A teoria mais controversa, no entanto, era de que o local pudesse ter sido usado como cemitério por aquele povo.
Assim, uma exploração mais aprofundada de outras câmaras dentro da caverna – mais de quatro quilômetros do sistema, que tem pelo menos 300 metros de profundidade, foram mapeadas até agora – revelou corpos, incluindo de crianças, em diferentes níveis de depressões do solo que, segundo os pesquisadores, foram cavados intencionalmente.
“Pude ver o contorno dessa área perturbada que claramente interrompeu o chão estável da caverna”, disse Berger. “Quer você chame de sepultura ou não, é um buraco cavado com um corpo naledi que foi coberto pela sujeira desse buraco”.
Com cuidado e segurança, as equipes trouxeram o conteúdo de um desses buracos para a superfície, onde ele foi examinado usando métodos como tomografia computadorizada. As análises comprovaram que os ossos pertenciam todos ao mesmo indivíduo, o que apoia a ideia de que eles haviam descoberto um corpo sepultado, e não uma mistura de ossos de diferentes pessoas que pudessem ter caído juntas ali.
“A ideia de lidar com a morte de forma ritualizada é, na verdade, uma das últimas coisas preciosas ligadas ao ser humano”, disse Berger, acrescentando que o difícil acesso e a profundidade da caverna subterrânea sustenta a ideia de que o Homo naledi estava fazendo algo semelhante. “Eles não queriam seus mortos em um espaço fácil de chegar, assim como nós também não”.
Símbolos adotados pelo hominídeo têm ligação surpreendente com homem moderno
Em julho de 2022, durante a extensão da pesquisa, foram descobertas gravuras dentro de uma das câmaras, que incluíam padrões cruzados semelhantes a uma hashtag moderna que foram feitos com uma ferramenta pontiaguda.
O significado pretendido dos símbolos dentro da Estrela Ascendente ainda não foram determinados, segundo os pesquisadores, mas o ato de gravar desenhos intencionais é amplamente considerado um grande passo cognitivo na evolução humana.
Traços cruzados parecidos com os encontrados nesse local foram identificados em um sítio neandertal em Gibraltar que tem apenas dezenas de milhares de anos. “Eles são estranhamente semelhantes, e estão a oito mil quilômetros de distância, o que é simplesmente louco”, disse Hawks.
Uma explicação, de acordo com Berger, é que esses símbolos cruzados “são profundamente compartilhados por nosso último ancestral comum e ficam dentro de nós”.
*Fonte: Olhar digital.