“A alimentação humana é um tema recorrente nos estudos de biologia, antropologia,arqueologia, paleontologia e etnologia….

A alimentação, por sua fundamental importância, foi agregando significados simbólicos.

E o que acontece então com os exohumanos? Eles se alimentam e têm as mesmas exigências alimentares que os humanos da Terra? O que nos ensinam sobre biologia, civilização e ambiente, nos planetas de origem, as diferenças de alimentação?” Lallá Barretto

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O contato com seres alegadamente extraterrestres tem colocado a humanidade terrestre diante de grande número de humanóides, que se apresentam para nós, não apenas afirmando sua identidade humana, mas apresentando também as mesmas características relevadas pela Antropologia para definir o que diferencia o homem dos outros animais. Mas, quem são esses seres? De que são feitos? Como nascem, vivem e morrem? Como pensam? O que pensam? Como é sua civilização? Precisamos nos preparar para lidar com as enormes diferenças biológicas, psíquicas e culturais que intervirão no contato com outras espécies humanas extraterrestres.

Uma das abordagens para conhecer esses exohumanos seria o estudo das informações transmitidas por eles mesmos nos relatos de testemunhas que estiveram em contato direto com eles e que tenham alto índice de credibilidade e de consistência na construção do caso.  (BARRETTO, 2023). Allen Hyneck elaborou, no início dos anos 70, a metodologia mais utilizada para a classificação e análise dos relatos de UFOs, considerando principalmente dois fatores: a credibilidade das testemunhas e a medida de estranheza, que definem a experiência ufológica como particular e única, que não se confunde com as chamadas experiências espirituais ou sobrenaturais (HYNECK, 1972). Enquanto a estranheza de Hyneck se refere aos detalhes atípicos e inexplicáveis de um caso, vamos aprofundar o conceito elaborado por ele para nos situarmos no delay, no intervalo cognitivo do que é relatado como radicalmente diferente e ao mesmo tempo familiar, identificado com o que é propriamente humano.

A Antropologia não conseguiu até hoje apreender o que é “ser humano” de maneira definitiva. Define o “humano” por meio de um conjunto de características, que podem variar segundo diferentes autores. Para efeito do presente artigo, vamos nos referir ao seguinte conjunto de características, que contemplam os principais aspectos biológicos e culturais que observamos na espécie humana terrestre, e também nos extraterrestres que se apresentam como tão humanos quanto nós: a bipedia, a morfologia (cabeça, tronco e membros), a capacidade de simbolização, com o desenvolvimento da linguagem, e a de produzir cultura, ciência e tecnologia, modificando seu meio natural. A única característica que a diferencia totalmente das outras formas de vida na Terra é o desenvolvimento da linguagem articulada, que evidencia um funcionamento cognitivo, mental e uma forma de inteligência, específicas do homo sapiens, espécie humana que domina hoje nosso planeta. 

Os relatos de alta credibilidade são fontes muitos interessantes, na medida em que trataria de uma realidade objetiva de seres considerados como reais. (BARRETTO, 2023)

Antropologia da alimentação dos humanos da Terra.

A alimentação humana é um tema recorrente nos estudos de biologia, antropologia, arqueologia, paleontologia e etnologia. A necessidade de se alimentar para preservar a vida individual e dos grupos foi a grande promotora das primeiras associações humanas. Promover a vida e a permanência do grupo exige a busca de conhecimento, a produção dos meios para tornar prático esse conhecimento, a organização social necessária para coordenar todos os fatores que garantam a sobrevivência do grupo. A alimentação, por sua fundamental importância, foi agregando significados simbólicos, por meio da linguagem, em tradições e rituais, e, isso, em todas as culturas humanas. Vimos que a Antropologia reconhece como uma das principais características que definem o “ser humano” a capacidade de modificar seu meio ambiente em proveito próprio, inventando, por exemplo, a agricultura como meio de produzir alimentos de maneira permanente. Os hábitos alimentares refletem e testemunham a maneira como uma sociedade interage com seu ambiente ecológico e constrói a identidade de sua civilização.

Por outro lado, a refeição tem sido, entre os humanos, o momento privilegiado de interação e transmissão de conhecimentos no grupo. Esse momento seria também propício para no futuro aprofundarmos nossas relações com extraterrestres?

Exoantropologia da alimentação dos humanos de Klermer.

E o que acontece então com os exohumanos?  Eles se alimentam e têm as mesmas exigências alimentares que os humanos da Terra? O que nos ensinam sobre sua biologia, civilização e ambiente nos planetas de origem as diferenças de alimentação? Faz sentido considerar como índice de humanidade o fato de se alimentarem como nós?Nos relatos de testemunha em que a alimentação é colocada em cena, ela integra sempre a estranheza que caracteriza o contato. Texturas, gostos, efeitos físicos e mentais se apresentam como estranhos, perturbadores, que seus efeitos sejam bons ou ruins. 

Entretanto, apesar da estranheza, permanecemos no nível do inteligível, do que pode ser analisado, compreendido e identificado como relevando do que é humano.

Vamos examinar neste artigo a questão da alimentação relatada por Maria Aparecida de Oliveira Bianca, caso estudado primeiramente pela grande Irene Granchi, além de Marco Petit, para citar apenas os mais expressivos ufólogos que se debruçaram sobre o caso, contribuindo para seu alto índice de credibilidade. O relato se encontra no livro de Bianca, As possibilidades do infinito: de um contato do 3º grau à conquista da autoconsciência, onde testemunha do contato que se seguiu à abdução sofrida junto com seu companheiro Hermínio, em 12 de janeiro de 1976. Dentro da nave, a conversa com Karran envolveu alguns aspectos da questão alimentar para esse alegado exohumano, proveniente do planeta Klermer, que localizou de maneira bastante vaga, à moda extraterrestre, “a uma distância ainda não conhecida do homem da sua Terra” (BIANCA, 1987, p. 19).

A estranheza do contato na alimentação extraterrestre.

Depois de expressar estar com fome, Bianca relata que “foi naquele momento que tive mais uma surpresa. De uma porta que ficava por trás de onde eu estava sentada, saiu uma mulher, também morena, com cabelos negros e compridos, até a altura do busto, trazendo em suas mãos uma bandeja quadrada, com quatro copos. (…) A seguir ela foi para junto de Karran e entregou-lhe um dos copos e uma espécie de pão redondo, fazendo a mesma coisa com o outro rapaz. (…) depois de servi-los, ela caminhou na direção do meu companheiro e entregou-lhe um dos copos e um pão ou algo parecido.” (BIANCA, 1987, p. 34) 

Apesar da movimentação totalmente banal de alguém entrando num ambiente, trazendo comida e bebida para as pessoas, Bianca expressa a insegurança e indecisão inspiradas pela estranheza do contato, relatando que “também para mim, deu um copo e um pão. Fiquei momentaneamente indecisa, não sabia se comia ou não, mas finalmente todos começaram a comer, e, como eu já havia dito que estava com fome, não tive outra escolha senão comer também.” (BIANCA, 1987, p. 35)

As diferenças de paladar se revelam entre espécies humanas: “Karran e seu companheiro comiam com muita disposição, parecendo-me que estavam achando uma delícia. Mas eu não estava gostando, (…) era muito fofo e não tinha gosto de nada. Não preciso dizer quanto tempo demorei para comer.” (BIANCA, 1987, p. 35)

Em seguida, um elemento tão fundamental quanto a água para a vida humana terrestre se apresenta com um outro estatuto para os humanos de Klermer: “O líquido, à primeira vista, parecia ser água, da mesma cor, mas quando coloquei na boca, senti que não era. O sabor era totalmente diferente, parecia um óleo fino, mas tinha gosto de sal, açúcar, bicarbonato, era ácido e amargo, lembrava-me um pouco o soro, esse que a gente toma oralmente no hospital. Karran prossegue dizendo que “nem sempre o que serve para comer é bom para a matéria. (…) não usamos água para beber, como vocês. Esta é usada apenas no preparo dos alimentos. (…) Também não somos habituados a beber água, a água que bebemos provém das frutas.” (BIANCA, 1987)

 Os corpos humanos terrestres são constituídos por uma grande quantidade de água, que varia entre 60 e 70%, segundo a idade e o sexo. A água é, portanto, imprescindível para a manutenção dos processos biológicos e funções corporais, como regular a temperatura do corpo, transportar, digerir e absorver nutrientes como o oxigênio, eliminar resíduos pela filtragem dos rins, sustentar as funções muscular, nervosa e cardíaca, além de lubrificar e proteger as articulações, os tecidos e órgãos internos. A desidratação coloca em risco a manutenção, não apenas da vida humana, mas de quase toda a vida na Terra. 

Os exohumanos de Klermer teriam uma biologia diferente da dos humanos terrestres no que concerne a água? Karran se refere à água, tal como a conhecemos, quase que como uma substância obsoleta, que não serve para beber, relegada apenas à função de preparo dos alimentos. A água que bebem é extraída das frutas e, pelo jeito, não tem nada a ver com os nossos sucos, que são preparados com pedaços das frutas e a água que eles não bebem. Mais uma vez aqui podemos pensar em avançada tecnologia alimentar. Percebemos no relato a atenção da testemunha se fixar em detalhes, o que é coerente com a maneira como a mente reage ao ter que lidar com processos traumáticos. Situações traumáticas tendem a capturar a atenção de forma intensa, o que favorece a fixação de detalhes específicos, muitas vezes de forma involuntária e resistente ao esquecimento. Detalhes como a diferença dos copos oferecidos dentro da nave expressam a estranheza do contato: “logo minha atenção se voltou para os copos que estávamos usando. Eram compridos e diferentes dos nossos, pois não eram de vidro nem eram transparentes, mas eram de um metal dourado. Também havia neles traços de medidas. A bandeja era prateada, muito bonita, parecia-se com a mesma cor prateada das paredes daquela sala.”  (BIANCA, 1987, p. 35). Os detalhes vívidos fixados durante a experiência se agregam uns aos outros para constituir a estranheza que define o contato ufológico como uma experiência específica e única (HYNECK, 1972).

A ingestão do pão com gosto de nada e da água oleosa levou Bianca a um estado de sono diferente daquele que experimentava habitualmente: “Karran voltou a conversar com o meu companheiro, esta conversa não foi muito longa, porque naquele momento, eu comecei a sentir sono. Era um sono diferente, porque eu estava tendo a sensação de que tudo em minha volta estava desaparecendo para logo depois sentir-me bem novamente. Tive medo.” (BIANCA, 1987, p. 3)

Na Terra, sabemos da importância das numerosas dietas que, se melhoram diferentes aspectos da saúde, estão longe de erradicar as doenças humanas.  Em Klermer, as doenças foram erradicadas e Karran informa sobre o que para nós seria uma verdadeira tecnologia da alimentação: “O que provoca as doenças é a falta de alimento próprio porque nem sempre o que serve para comer é bom para a matéria. (…) Nossa alimentação vem toda preparada dos centros de saúde espalhados em vários pontos do nosso planeta. Onde moramos não preparamos nenhum tipo de alimento, para não corrermos o risco de uma alimentação indevida e fora de época. Seguimos uma tabela alimentar sem nenhuma alteração.” Essa rigidez alimentar parece ter a ver com o fato de, em Klermer, haver uma única etnia humana e menor diversidade de alimentos disponíveis. Isso porque, Bianca relata, Karran explicou que na terra dele “existe grande variedade de alimentos, mas não tanta quanto na nossa Terra, porque todas as raças que pesquisavam nossa Terra trouxeram seu próprio tipo de alimento e os que se adaptaram ao nosso solo permanecem. Assim sendo, em nossa Terra existe muito mais variedade de alimentos do que em qualquer outro planeta habitado. Embora comam as mesmas coisas que nós, a maneira de preparar é muito diferente.” (BIANCA, 1987, p. 44-46)

Karran prossegue esclarecendo que são muitas são as diferenças de alimentação nos dois planetas: “Na sua terra vocês reúnem, num só dia, vários tipos de alimentos com propriedades diferentes e se alimentam de todos eles de uma só vez. Isso provoca desequilíbrio celular, porque, quando você reúne na alimentação tipos variados de alimentos, você não está abastecendo sua matéria de maneira correta, porque esta recebe todos os alimentos que você comeu, mas nenhum deles abastece suficientemente seu corpo.