Nos anos 70, moradores da Região Norte foram atacados por estranhos objetos luminosos. Hoje, mais de 40 anos depois, ainda temos mais perguntas do que respostas. A Aeronáutica retém documentos que podem esclarecer o que ocorreu no norte do Brasil, mas nega que eles existam.

Nos anos 1977 e 1978, a Força Aérea Brasileira (FAB) registrou uma série de avistamentos de objetos luminosos não identificados nos arredores e no município de Colares, pequena cidade localizada na ilha homônima do estado do Pará. Diferentemente de outras ocorrências ufológicas, estas incluíam ataques a pessoas por parte das luzes. Os relatos foram tantos que o assunto logo começou a espalhar o temor na população. Em função da repercussão, a Força Aérea iniciou suas investigações dos fatos, que acabaram se transformando — até onde se sabe — na maior missão militar de que se tem conhecimento na história para investigação de discos voadores, a Operação Prato.

A missão militar teve início em setembro de 1977 sob o comando do então capitão Uyrangê Bolívar Soares Nogueira de Hollanda Lima, que, inclusive, foi quem deu o nome à operação. Sua equipe, composta por algo entre 20 e 30 militares, tinha por objetivo investigar aquele trecho do litoral paraense, conversar com testemunhas e vítimas e registrar os fatos. Os investigadores da Força Aérea estavam equipados com binóculos potentes, radares portáteis, câmeras fotográficas e filmadoras para observar e documentar as estranhas manifestações relatadas pelos moradores. E até um contato com os supostos tripulantes daqueles objetos estava na pauta.

É importante ressaltar que a Operação Prato se deu em um momento político bem delicado no país e no mundo, durante a Guerra Fria e em pleno governo militar, quando a censura de informações ocorria de forma corriqueira. À época, os militares estavam muito preocupados que os acontecimentos no Pará fossem, na verdade, um ressurgimento da Guerrilha do Araguaia, encerrada três anos antes. Havia também o medo de que os objetos luminosos vistos pela população fossem algum tipo de tecnologia soviética ou invasão comunista, o que logo foi descartado.

Pesquisa que não acaba

Naquela ocasião o assunto tomava conta dos noticiários e das conversas entre os populares em Belém, e cada vez mais pessoas davam entrada nos hospitais da região apresentando estranhas marcas e queimaduras que, segundo os próprios pacientes, haviam sido causadas pelas luzes do céu. No cotidiano das testemunhas e vítimas, os artefatos eram chamados de “chupa-chupa” ou apenas “chupa”, apelido que acabou por nomear o que ficou conhecido como Fenômeno Chupa-Chupa. A denominação popular ocorreu em função dos relatos de pessoas que eram atingidas pelos raios de luz, que acreditavam que lhes extraÍam seu sangue.

A equipe do capitão Hollanda restabeleceu a ordem na cidade durante os quatro meses em que permaneceu em atividade no local. A Operação Prato foi, então, oficialmente encerrada em dezembro de 1977 e não se ouviu mais falar do assunto. Isso até 1997, quando, já coronel e na Reserva, Uyrangê Hollanda ofereceu-se para conceder uma entrevista inédita e exclusiva ao editor da Revista UFO, A. J. Gevaerd, que levou consigo o então coeditor Marco Petit. O militar revelou, naquela conversa, tudo o que havia presenciado durante aqueles meses no Pará.

Na entrevista, Hollanda desmentiu a versão oficial e contou que sua equipe fez, sim, registros em fotos e em vídeos dos objetos luminosos e de gigantescas naves que realizavam movimentos impossíveis para a tecnologia terrestre. Uma delas, segundo o coronel, emitia luzes de diferentes cores, liberava e recolhia pequenas sondas ufológicas — a equipe também coletou depoimentos da população sobre a existência de estranhos seres saídos do interior da nave. O chupa-chupa estava em todos os lados amedrontando a população, também conhecido como “aparelho”, “luz vampira”, “luz do medo” etc.

O coronel Uyrangê Hollanda, comandante da Operação Prato, revelou ter tido um encontro com um tripulante do chupa-chupa.

O relatório final da Operação Prato, escrito pelo próprio Hollanda e por um comandado seu, dizia que não havia indícios de seres extraterrestres na cidade de Colares, o que ele negaria depois de supostamente testemunhar a ação de pelo menos uma entidade não terrestre na região. A Força Aérea Brasileira (FAB) decretou o fim da missão e o retorno da equipe ao I Comando Aéreo Regional (COMAR), em Belém. Mas as pesquisas nunca pararam. Hoje se sabe que a onda ufológica paraense foi, na verdade, apenas a continuação de algo que havia começado em 1976 com o Caso Barroso, ocorrido no Ceará, e depois seguido pelo Caso da Ilha dos Caranguejos, no Maranhão, já em 1977. As testemunhas desses dois episódios relataram terem sido atacadas por luzes não identificadas que se comportavam de forma muito agressiva, coisa raramente vista na história da Ufologia Mundial.

Entre os pesquisadores que continuaram a se interessar pelo fenômeno e a levantar dados sobre ele, ainda que não os pudesse divulgar como gostaria, estava o entrevistado desta edição, o jornalista Carlos Mendes. Paraense de Belém, Mendes lançou recentemente o livro Luzes do Medo [Biblioteca UFO, 2019], uma obra que já é uma das principais da Ufologia Brasileira porque narra, de forma clara e jornalística, a experiência do autor durante e depois da Operação Prato. Recheado de depoimentos inéditos e relatos em primeira pessoa, o livro mostra que ainda há muito para ser descoberto.

Observação in loco

Mendes conviveu com o coronel Hollanda, pois esteve várias vezes na Ilha de Colares acompanhando a ação dos militares. Ele pessoalmente nunca testemunhou o chupa-chupa, mas isso não diminuiu sua curiosidade ou vontade de conhecer a verdade sobre os fatos. Vocacionado para o jornalismo, nosso entrevistado exerce a profissão desde 1974, mas já havia iniciado sua experiência pelas redações da capital paraense no começo de 1970, escrevendo sobre literatura e cinema no jornal A Província do Pará, onde depois seria repórter.

Entre 1976 e 1980, Mendes trabalhou no O Estado do Pará, veículo pelo qual, entre 1977 e 1978, cobriu as aparições das luzes misteriosas e seus ataques às populações rurais e ribeirinhas. Durante a onda do chupa-chupa em seu estado, e em outros da Região Norte, dedicou-se em caráter integral à cobertura in loco dos acontecimentos, entrevistando testemunhas e vítimas dos ataques da luz vampira. E quando foi iniciada a Operação Prato, esteve continuamente em busca de informações militares, acompanhando as ações dos membros da Aeronáutica para informar aos seus leitores.

Na entrevista que concedeu à UFO, Hollanda desmentiu a versão oficial e contou que sua equipe fez, sim, registros em fotos e em vídeos dos objetos luminosos e de gigantescas naves que realizavam movimentos impossíveis para a tecnologia terrestre.

Mendes também foi repórter especial e depois editor-geral de A Folha do Norte. Posteriormente, transferiu-se para O Liberal, ali atuando por 20 anos. Também trabalhou no Diário do Pará por seis anos. Nesses últimos 23 anos de intensa atividade jornalística, foi também correspondente de O Estado de São Paulo. No jornalismo investigativo, tornou-se especialista nas questões amazônicas, cobrindo, em 45 anos de profissão, temas polêmicos como conflitos e grilagem de terras, trabalho escravo e infantil, devastação florestal, invasão e extração de madeira em terras indígenas, grandes projetos de mineração, dentre outros. Hoje mantém nas redes sociais o blog Ver-o-Fato [Endereço: www.ver-o-fato.com.br]. É consultor da Revista UFO, casado e pai de três filhos.

Sobre seu livro, ele explica que “é uma obra escrita por quem esteve ao vivo no palco e no fervor dos acontecimentos”. Mendes complementa dizendo que espera “que Luzes do Medo contribua para forçar quem esteve na Operação Prato, e ainda está vivo, a vir a público contar sua participação naquela importante missão militar, a maior do mundo dedicada à investigação de objetos voadores não identificados”. Com certeza todos nós esperamos a mesma coisa.

Lallá Barretto: Em sua trajetória profissional você teve oportunidade de investigar os fenômenos desconhecidos e ameaçadores que se precipitaram sobre muitos habitantes do Pará e que resultaram na Operação Prato. Que informações levaram o jornal a enviá-lo para a região? 

Carlos Mendes: O fenômeno já ocorria no interior do Maranhão desde abril de 1977, mas as notícias que chegavam ao Pará eram esparsas e ainda sem grande repercussão na imprensa de Belém. O mais interessante é que moradores de Viseu, município do Pará localizado na divisa com o Maranhão, já acusavam a presença de luzes e ataques às localidades ribeirinhas. Esses registros, porém, não eram publicados pelos jornais belenenses, cidade distante 300 km da divisa. Então, cinco mulheres, na segunda quinzena de maio daquele ano, foram ao jornal O Estado do Pará e relataram as aparições em Viseu, despertando a atenção de meu editor-geral Walmir Botelho. A partir do relato de duas senhoras que haviam sido atacadas, uma delas maranhense, eu entrei na investigação. E, daí em diante, não parei mais. Os militares da Operação Prato tentaram me parar, mas não conseguiram. O que tenho de curiosidade, tenho de teimosia.

LB: Como foi o primeiro contato de um jovem repórter investigativo, como era seu caso, com um fenômeno totalmente desconhecido? 

CM: Para quem, como eu, já investigava outros fatos, mas de natureza bem humana, como conflitos pela posse de terras, devastação florestal, trabalho escravo e tráfico humano da Amazônia para outros países, confesso que o primeiro contato com pessoas atacadas pelas luzes foi impactante e desafiador. Nunca imaginei que teria que investigar algo que fugia completamente à natureza de meu trabalho como repórter. No começo, fiquei perplexo ao ver as pessoas exibirem marcas no corpo e dizerem que haviam sido feitas por luzes vindas do espaço — elas não sabiam explicar o que eram aquelas marcas. E eu, como repórter, teria que buscar as explicações com quem entendia do assunto. Tarefa complicada, como pude perceber mais tarde. Cada estudioso tinha uma explicação diferente
para o fenômeno.

LB: Quais aspectos do fenômeno mais o impressionaram na ocasião?

CM: As marcas nos seios das mulheres, sem dúvida, foi o que mais chamou a minha atenção. Que relação havia entre a intenção daqueles ataques e a localização no corpo daquelas mulheres? Nenhuma das que entrevistei estava grávida ou tinha filhos recém-nascidos para amamentar. Não entendi, como não consigo entender até hoje, qual era o objetivo dos ataques naquela parte do corpo feminino. Havia também casos de mulheres atacadas em que os seios foram poupados. Elas apresentavam marcas, ou melhor, furos pequenos no pescoço e braços. Nos homens, braços, pernas e pescoço eram as regiões mais atingidas.

Uma das fotos das naves alienígenas obtidas pelos militares da Operação Prato, esta de uma nave-mãe sobre o Rio Amazonas.

LB: Você tem certeza, hoje, de que os acontecimentos que investigou eram de natureza extraterrestre? Como posso definir isso? 

CM: É uma dúvida que carrego comigo para a qual ainda não obtive resposta. Seria fácil dizer que eram experiências militares ou testes científicos realizados pela Rússia e Estados Unidos durante o período da Guerra Fria. Essa afirmação, no entanto, ensejaria alguns questionamentos. Primeiro, qual a finalidade de testes com cobaias humanas? Segundo, qual foi o critério para escolher as populações do Pará e Maranhão? Alguma característica física, geográfica, modo de vida? A origem extraterrestre, mesmo sem provas que me convençam, é a hipótese que mais considero.

LB: Por que você diz isso? 

CM: Coisas muito estranhas aconteceram e os próprios militares, por meio do então capitão Uyrangê Hollanda, testemunharam uma nave do tamanho de um prédio de 30 andares sobre o Rio Guajará-Mirim. Ora, isso responde à sua pergunta, pelo menos do ponto de vista do pessoal da Operação Prato. Quanto a mim, considero a possibilidade, mas para chegar à probabilidade há uma enorme distância a percorrer. Fico com a dúvida. Ou duvido da própria dúvida.

LB: A partir de que momento você teve a certeza de que a possibilidade extraterrestre deveria ser apreciada? 

CM: As várias tentativas dos militares para manter suas investigações longe do foco da imprensa, a pressão da Aeronáutica sobre a doutora Wellaide Cecim — a médica que atendeu a muitas vítimas — para que ela convencesse aquelas pessoas de que elas estavam sob histeria coletiva, as idas e vindas do capitão Hollanda pelos jornais de Belém, pedindo para arrefecermos a cobertura dos fatos e até mesmo acabar de vez com o noticiário sobre a Operação Prato etc. Tudo isso me leva a crer que eles sabiam mais do que eu havia apurado quanto à natureza daquelas luzes. Não tive a certeza de que eram inteligências extraterrestres, mas a tentativa de abafar os fatos despertou minha desconfiança de que tudo era muito grave e misterioso, apontando para uma direção que os céticos se recusam em admitir. Para mim, nenhuma porta de conhecimento deve ser fechada.

LB: Você pode nos dizer o que é para você, hoje, o Fenômeno UFO? 

CM: É um fenômeno que instiga a curiosidade humana em busca de respostas convincentes. Que há vida inteligente em outros mundos é uma hipótese muito provável a se considerar. A questão é: pelos meios tecnológicos e científicos de que dispomos, é possível manter contato com essas inteligências? Creio que despertamos nesses seres a mesma curiosidade que temos com relação aos insetos — a comunidade das formigas é muito mais solidária e organizada do que a humana. Diante disso, podemos dizer que o homem é mais inteligente do que uma formiga? Qual é o método de medição utilizado para atestar isso? Além disso, outra pergunta se impõe: o que é inteligência? Apenas o acúmulo de conhecimentos e informações ou algo que transcende a tudo isso e se impõe em um plano vibratório mais avançado, no qual as distâncias não existem?

LB: Você acredita que algum dia conseguiremos responder a essas perguntas? 

CM: As respostas virão quando a humanidade tiver evoluído e superado suas limitações binárias, entrando em outro plano de vibração para ser aceita pelas comunidades do espaço, onde essas barreiras já foram vencidas. Do ponto de vista das observações de luzes e supostas naves nos céus do mundo, é preciso desconfiar sempre de farsantes e mentirosos, que a todo instante “viajam na maionese” e se dizem abduzidos ou que tiveram contato com seres de outros mundos, alguns com espantosa familiaridade. Nem sempre luzes nos céus significam a presença de alienígenas. Há fenômenos meteorológicos e há satélites aos milhares sobre nossas cabeças, além de balões meteorológicos, anomalias magnéticas e agora, para confundir ainda mais o cenário, os drones que poluem os céus das grandes cidades e do interior. É preciso separar o joio do trigo. Quem deve fazer a diferença são pesquisadores sérios como o pessoal da Revista UFO, e outros que, às vezes solitariamente, estudam e batem cabeça para tentar desvendar o que para muitos é indesvendável.

O entrevistado conviveu com Uyrangê Hollanda, pois esteve várias vezes na Ilha de Colares acompanhando a ação dos militares. Pessoalmente nunca testemunhou o chupa-chupa, mas isso não diminuiu sua curiosidade de conhecer a verdade sobre os fatos.

LB: Em algumas palestras você relatou sua decepção por ter estado no palco dos acontecimentos do chupa-chupa e não ter visto nada, e ainda continua até hoje envolvido com o assunto. Você acha que foi tocado por essa curiosidade especial ou aquela foi uma investigação como muitas outras em sua carreira de jornalista? 

CM: Alguma vez você foi surpreendido pela sincronia entre o Fenômeno UFO e sua presença ou atividade de repórter? Esse é o véu do mistério posto sobre mim. Eu, até involuntariamente, acabei atraído por também não ter obtido as respostas que buscava para entender o fenômeno. Se eu disser que não fui para o palco dos acontecimentos puxado por uma curiosidade especial, estarei mentindo. Uma coisa, porém, é a atração em ver para crer. Outra é não ver e dar credibilidade às pessoas que viram, sobretudo àquelas que foram atacadas. Já ouvi pesquisadores científicos dizerem que não ocorreram ataques no Pará e Maranhão entre 1977 e 1978, apenas avistamentos de luzes. E as marcas nos corpos das pessoas, de diferentes regiões dos dois estados, gente que nunca se vira antes, relatando os mesmos sintomas físicos e o desfecho dos ataques? Não vejo uma sincronia do fenômeno com o fato de eu, como repórter, estar em alguns municípios e povoados nos dias em que os ataques aconteceram. Pode ser uma simples coincidência. Mas que coincidência era essa se eu estava lá e não via nada, para minutos ou horas depois localizar e entrevistar pessoas que não só viram como foram alvo direto dos raios luminosos? Deixo as respostas para quem souber — ou puder — oferecê-las.

LB: Você poderia nos falar sobre a dificuldade de informar um fenômeno desconhecido, justamente em um momento histórico difícil, com o país governado por militares em um regime de exceção e na vigência da Lei de Segurança Nacional e de repressão à guerrilha? 

CM: No começo de tudo, antes de a Operação Prato ir a campo investigar o que ocorria, havia ampla liberdade para publicar o que os jornais quisessem. Não havia qualquer tipo de censura oficial, nem a famigerada autocensura dos donos das empresas jornalísticas — e menos ainda dos repórteres. Isso só veio a ocorrer a partir de outubro de 1977, na primeira fase da investigação militar. Em tempos de restrição à liberdade de imprensa, os jornalistas temiam que a interferência no trabalho prejudicasse o direito da população em ser informada sobre os acontecimentos.

LB: Os militares temiam a divulgação dos acontecimentos?

CM: É preciso contextualizar as coisas. O final da Guerrilha do Araguaia, ocorrida no sul do Pará três anos antes, ainda era uma ferida aberta no meio militar. Os comunistas do PC do B achavam que iriam derrubar o regime, levando sua tresloucada revolução do campo para a cidade. Deu no que deu. Os 69 guerrilheiros foram mortos, mas os órgãos de informação militar temiam que a mensagem dos comunistas tivesse ficado na mente dos caboclos e ribeirinhos. Assim, a luta continuaria em outra região paraense conhecida como Salgado. Mas o fantasma foi logo afastado, porque o que atemorizava as pessoas estava no céu, não na terra. E foi isso que os militares comprovaram. Daí a tentativa de calar a imprensa. Conseguiram fazê-lo em parte, forçando alguns donos de jornais a publicarem notícias que ridicularizavam o fenômeno e algumas vítimas. Aquela manchete do jornal A Província do Pará, intitulada Chupa-Chupa Só Gosta de Mulher, foi um claro deboche para desqualificar as aparições. Relato isso com detalhes em meu livro. E há outros fatos citados que corroboram minha afirmação.

LB: De que maneira você acha que a falta de liberdade na investigação e na informação afetaram o conhecimento que temos hoje dos acontecimentos do Pará? 

CM: Você tocou em um dos pontos mais importantes dessa entrevista. No meu livro eu revelo que meu jornal, por determinação do editor-geral Walmir Botelho — que me concedeu importantes e inéditas declarações —, iria publicar um caderno de 16 páginas com fotos exclusivas de luzes, naves-mãe, revelações e narrativas de vítimas que só o jornalista Biamir Siqueira, eu e o fotógrafo José Ribamar dos Prazeres tínhamos, e que nenhum outro jornal de Belém havia apurado. Quando os episódios de Mosqueiro e Baía do Sol foram publicados, em junho de 1978, Botelho esteve a ponto de ser preso e enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Aquilo que foi publicado era pouco em relação a todo o trabalho que nós três havíamos colhido de depoimentos. A pressão foi tão grande que, após a Aeronáutica confiscar os filmes de UFOs do José Ribamar dos Prazeres — apelidado de “Riba” —, veio de cima a ordem para que o caso também fosse encerrado na imprensa, como fora feito seis meses antes, em dezembro de 1977, quando a Operação Prato foi abruptamente interrompida. Se algum dia todos esses filmes do Riba aparecerem, talvez eu possa ilustrar, com imagens, as matérias inéditas que estão no livro, além de outras. O que foi liberado e está no Arquivo Nacional, em Brasília, não chega a 10% das fotografias que ele fez.

Em geral o que se viam eram esferas luminosas que são conhecidas na Ufologia como sondas ufológicas.

LB: Você acredita que os acontecimentos de Colares e região, que concentraram numerosos e diferentes tipos de contato, tenham sido um momento dentro de uma ação extraterrestre ainda mais ampla no Norte do Brasil? 

CM: Sem dúvida, o que aconteceu no Pará, no desdobramento da manifestação das luzes no interior do Maranhão, foi mais amplo, específico e aterrador, principalmente quando o fenômeno se concentrou na região de Vigia, Colares, Santo Antônio do Tauá, Benevides, Ananindeua, Baía do Sol e Mosqueiro. Impressiona, para quem vê o mapa do Pará, a proximidade dessas localidades com a cidade de Belém, onde também ocorreram muitos relatos de pânico, medo e ataques. Se aquilo era coisa de terrestres ou extraterrestres, a localização deve ter obedecido a uma estratégia, pois as luzes e seus “objetos inteligentemente dirigidos” — como diz trecho do relatório da Operação Prato — se deram ao luxo de mergulhar e depois sair de rios em alta velocidade. Uma dessas luzes eu e o general Alfredo Moacyr Uchôa vimos. Ninguém me contou. Há alguma explicação para isso? Até hoje, não a encontrei.

LB: Você já comentou sobre as incríveis imagens feitas pelo fotógrafo José Ribamar dos Prazeres, o Riba. E teve diante dos olhos outro tipo de fotografia, diferente das luzes que foram fotografadas pela Operação Prato e que foram liberadas por pressão da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU)?

CM: Sim, tive acesso, vi e me espantei com diversas fotos, algumas jamais reveladas, até mesmo nas matérias sobre as aparições na Baía do Sol, entre abril e junho de 1978. Meu editor-geral Walmir Botelho, como digo em meu livro, queria publicar essas fotos. Então sugeri uma capa com pelo menos cinco delas, ampliadas. Eram naves que, em meio a raios de luz, ficavam nítidas em seu contorno. Havia algumas que mostravam sondas saindo pelas laterais de uma nave-mãe. Aquelas fotos aguçaram ainda mais minha curiosidade para observar essas naves em Colares, Vigia e região, na fase mais intensa das aparições. Infelizmente, nada vi. A não ser no episódio de setembro de 1979, na Baía do Sol, na companhia do general Uchôa.

LB: Como você avalia os documentos liberados? Eles são representativos dos acontecimentos ou há muito ainda a ser revelado, sobretudo no que concerne à fotos e vídeos? 

CM: Sim, o que foi liberado é importante, porque até então nada se sabia sobre a Operação Prato oficialmente. A conheciam apenas os militares e quem trabalhou na cobertura dos acontecimentos, como eu, Biamir Siqueira, Riba e colegas de outros jornais, alguns deles intimidados e ameaçados para que abandonassem suas pesquisas. Ainda falta liberar muita coisa importante. Vou citar apenas os casos da Fazenda Jeju, onde militares testemunharam aparições, e o da Olaria Keuffer, situada em um braço do Rio Guajará-Mirim, onde um ser perseguiu o senhor Luiz Rodrigues. Há também outros eventos em Santo Antônio do Ubintuba que foram omitidos nos documentos liberados. A liberação de todas as fotos do Riba e dos filmes ainda sob sigilo seria a grande aspiração de todos nós, jornalistas, ufólogos e pesquisadores do fenômeno.

LB: Voltando ao contexto político da época, um dos aspectos mais obscuros dos acontecimentos foi a interferência dos Estados Unidos, supostamente até presente no palco dos acontecimentos, nas figuras do astronauta Fred Coats e do padre Alfredo de La Ó. Você poderia nos falar um pouco sobre esses dois personagens e se, como repórter, você investigou a questão da presença norte-americana? 

CM: Sobre Fred Coats, que sequer cito em meu livro Luzes da Morte, não vi nenhuma relevância em sua atuação nas aparições que ocorreram perto de sua casa, na Baía do Sol, ou nas de Mosqueiro, Baía de Santo Antônio, Colares e Vigia. Esse senhor era discreto e tinha uma estação de radioamador em sua residência. Falei umas duas vezes com ele e parecia não se interessar pelo que ocorria. Certa vez, o repórter Biamir Siqueira, brincando, disse que o Coats “era meio desligado”, lembrando de uma música da banda Os Mutantes Ando Meio Desligado [1969]. Quanto ao padre Alfredo de La Ó, ele não apenas tinha forte ligação com os Estados Unidos, de onde viera, como abrigava estrangeiros na casa paroquial. No livro há um capítulo extenso sobre as peripécias desse padre.

As marcas do chupa-chupa nos seios das mulheres foi o que mais chamou a minha atenção. Que relação havia entre a intenção daqueles ataques e sua localização no corpo daquelas mulheres? Nenhuma das que entrevistei estava grávida.

LB: Você poderia nos falar o que pensa hoje, 40 anos depois, sobre a personalidade do coronel Uyrangê Hollanda e sobre seu relacionamento com ele? 

CM: O que posso dizer é que o capitão Hollanda — à época era esse o posto dele na Aeronáutica — era um homem íntegro e disciplinado, um verdadeiro militar, na melhor acepção do termo. Além disso, um estudioso de geopolítica e de atividades de grupos políticos que combatiam o regime militar. Tive com ele alguns encontros tensos e perigosos, nos quais corri o risco de ser preso. Só fui avaliar melhor a situação anos mais tarde. Meu impulso de investigar as aparições me levava a encarar as adversidades, e creio que o capitão Hollanda entendeu isso. Para ele, apesar de atrevido, eu era um sujeito inofensivo, como vim a saber depois por alguns militares da Aeronáutica. A Operação Prato deve ao Hollanda as descobertas e citações verídicas contidas nas páginas liberadas até hoje.

LB: Mas nem tudo foi liberado… 

CM: Sim. O principal continua sob segredo. Eu soube que entre esses papéis estaria um relatório específico sobre a suposta nave de 30 andares no Rio Guajará-Mirim, naquele contato narrado pelo Hollanda ao editor da Revista UFO A. J. Gevaerd e ao coeditor Petit, em 1997. Ele era um grande militar, que escreveu seu nome, indireta e tragicamente, na história da Ufologia Brasileira.

LB: Qual seu relacionamento com os outros membros da Operação Prato? Você poderia também nos falar sobre sua percepção da equipe militar que estava trabalhando por lá? 

CM: Quase nenhum contato. Os militares passavam as noites com binóculos na caixa-d’água do campo do senhor José Luzir, monitorando minhas vigílias no telhado do mercado de peixe da cidade de Colares, na beira do rio, a uns 80 m de distância. Durante o dia eles ficavam no acampamento na Praia do Humaitá, enquanto eu, no fusquinha do jornal, rodava pelo povoado e região em busca das vítimas do chupa-chupa. O sargento João Flávio Freitas, depois do capitão Hollanda, era o militar com quem eu mais falava. Ainda assim, poucas vezes…

LB: Outra personalidade que marcou os acontecimentos foi a famosa Mulher da Ilha do Meio, que você chama de a Mulher dos Peixes. Talvez você tenha sido a única pessoa a visitar a Ilha do Meio no calor da hora e depois de a ilha ter sido comprada para uso exclusivo da sua misteriosa proprietária. Poderia nos contar como foi essa visita e o que você encontrou lá?

CM: Esse é outro assunto que não trato no livro Luzes da Morte, até porque, como no caso do Fred Coats, não vejo relação com as aparições das luzes. Para mim, bastou a visita rápida que fiz à Ilha do Meio, em 1977, quando nada observei que me chamasse a atenção. A senhora Elisabeth Berger, dona da ilha, tinha problemas com a polícia e foi investigada por suspeita de tráfico de drogas — na região ela era vista como hippie. Havia uns franceses que andavam com ela pela cidade de Augusto Correia, o que fazia algumas pessoas atribuírem a ela alguma coisa com as aparições das luzes. Como era suíça ou inglesa — não me lembro —, loura e bonita, isso alimentava o mistério. Mas nada além disso.

LB: O lançamento de seu livro sobre os acontecimentos que assolaram o Pará no final da década de 70 acontece neste mês de março no XXV Congresso de Ufologia, em Curitiba. Você poderia nos contar o que o motivou a escrevê-lo, 40 anos após os fatos? 

CM: Durante os últimos 15 anos fui procurado por jornalistas brasileiros, estrangeiros e canais de TV em busca de informações adicionais sobre o que ocorreu no Pará naqueles anos da década de 70— como eles sabiam que eu estive no meio de tudo, queriam que eu fizesse revelações. Sou jornalista e sei como isso funciona. Sempre estive do outro lado. Quem gosta de holofote é o entrevistado, não o entrevistador. Nas entrevistas que dei a canais como o History, National Geographic, Globo, Record etc, falei não o que eles gostariam de ouvir, mas o que eu tinha a dizer naquele momento. Minha família sabia que eu tinha muito a contar e me estimulou a narrar tudo o que colhi de informações e investigações. No livro conto boa parte do que nunca revelei, e há entrevistas inéditas e inclusive reportagens que à época eram para ter sido publicadas e nunca foram.

LB: Você continuou a investigar durante essas quatro décadas os acontecimentos do Pará. Ao longo dos anos, você descobriu coisas que não havia descoberto à época? 

CM: Depois da investigação do final dos anos 70 surgiram coisas novas que naquela época não tive como apurar ou descobrir. Inclusive, houve militares da Aeronáutica e da Marinha que me procuraram, em Belém, para relatar fatos que não constam nos relatórios divulgados até hoje.

A médica Wellaide Cecim, que atuou durante a onda chupa-chupa, mostra um dos documentos secretros da Operação Prato.

LB: Seu livro Luzes do Medo já nasceu um clássico da Ufologia. Como você o estruturou para dar conta dos complexos eventos investigados?

CM:  É um livro-reportagem escrito em primeira pessoa. Meus filhos dizem que é um “livro-confissão”. Talvez eles tenham razão, porque revelo coisas que ficaram guardadas comigo nesses 40 anos. Organizar tudo em sequência cronológica era impossível de fazer — as aparições ocorriam em lugares distantes e os ataques às pessoas exigiam uma mobilidade física exaustiva de viagens de carro e de barco. À medida em que eu ia ouvindo os relatos das vítimas, e que outras pessoas sabiam que naquela região havia um repórter de Belém querendo ouvir as histórias de cada um, eu enriquecia meu arquivo de depoimentos. Foi assim, com base em anotações que guardei, e pesquisando intensamente nos arquivos públicos do Pará sobre o que outros colegas também relataram, que consegui reunir o material do livro. E olha que sobrou coisa.

LB: Você poderia nos contar a experiência que viveu com o general Alfredo Moacyr de Mendonça Uchôa?

CM: Foi uma experiência breve, mas enriquecedora. Ele veio a Belém em setembro de 1979, em um dia daquele mês que não recordo, e esteve na redação de O Estado do Pará para me conhecer. Ficamos um bom tempo conversando. Ele apareceu no jornal com um pessoal do programa Globo Repórter, que estava em Belém com o general para falar do chupa-chupa, até com certo atraso, pois a intensidade do fenômeno ocorreu entre maio de 1977 e junho de 1978. Estive por dois dias seguidos com o general e outros pesquisadores — além da equipe do Globo Repórter — na Baía do Sol, juntamente com o Biamir Siqueira e o Riba. O general era um homem extraordinário, calmo, observador e muito inteligente. Falou-me sobre a vida em outros mundos com muita convicção e lucidez. Guardo até hoje com muito carinho as lembranças de nossas conversas.

LB: O que você acha de o governo ter atendido, pelo menos parcialmente, a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) em sua campanha “UFOs: Liberdade de Informação Já”, feita por meio da Revista UFO para pedir que todos os documentos secretos da Operação Prato fossem liberados? Você tem ideia de porque a Aeronáutica não liberou tudo o que tem? 

CM: Os ufólogos conseguiram furar o cerco do acobertamento, pressionando para que os documentos da Operação Prato fossem liberados ainda que parcialmente. O governo sabe o que liberar e o que manter sob sigilo, mas não vejo razão para manter sob segredo tudo o que foi apurado e relatado pelos militares do I Comando Aéreo Regional (COMAR), de Belém, durante a coleta de informações e avistamentos, sobretudo na região próxima de Belém, onde estão Colares, Mosqueiro, Baía do Sol, Santo Antônio do Tauá e Vigia, além de Benevides. Não quero antecipar a “bomba” que virá caso tudo seja liberado, porque vim a saber — e preciso checar isso — que o então capitão Hollanda produziu documentos que a Aeronáutica jamais irá liberar. E por uma razão simples: os militares viram além do que poderiam ver e relataram o que não deveriam relatar.

LB: Uma questão muito importante relativa ao material secreto da Operação Prato diz respeito a 16 horas de filmes que os militares teriam feito de UFOs sobre o Rio Amazonas. O coronel Uyrangê Hollanda disse na entrevista a Gevaerd que não tinha esses vídeos e nem nunca os teve, mas há várias testemunhas que dizem que o coronel apresentou os vídeos a pesquisadores em diversos locais. O que você teria a nos dizer a respeito? 

CM: Não conto esse dado em Luzes do Medo, mas falo dele aqui. Rauda Graco, ufólogo paraense que no final dos anos 70 fundou em Belém o Grupo Ufológico da Amazônia (GUA), me garantiu recentemente que ele e outras pessoas do grupo assistiram a alguns vídeos da Operação Prato em uma sala da Infraero, ficando impressionados com as imagens e evoluções dos UFOs. Graco, hoje residente em São Paulo, disse que havia diversos militares na sala durante a exibição dos vídeos e eles não conseguiram encontrar explicações para aquelas imagens — o coronel Hollanda estava entre os militares. Enfim, mais um mistério a desvendar.

As respostas para o Fenômeno UFO virão finalmente quando a humanidade tiver evoluído e superado suas limitações binárias, entrando em outro plano de vibração para ser aceita pelas comunidades do espaço, onde essas barreiras já foram vencidas.

LB: Você tem ideia do que esses vídeos conteriam? E, aproveitando, também há quem diga que eles acabaram sendo retidos por militares norte-americanos e estariam até hoje em segredo nos Estados Unidos. Você poderia comentar isso? 

CM: O que sei, por ouvir dizer — e eu, como jornalista investigativo, não gosto disso, porque o bom é ver e tirar as próprias conclusões —, é que esses filmes foram exibidos até no Hilton Hotel, em Belém, além de naquela sala da Infraero no Aeroporto Val-de-Cans e em outros locais, inclusive na presença de militares da Aeronáutica, Exército e do pessoal do SNI, que então era o órgão de informações e espionagem do governo. Não há indícios nessas exibições da presença de norte-americanos ou de agentes do Pentágono. Mas, depois que eles estiveram no Pará, os vídeos teriam sido guardados e nunca mais exibidos. A suspeita é de que estariam nos Estados Unidos. É simples resolver esse problema: a Aeronáutica deveria vir a público e esclarecer isso de uma vez. Seria bom para ela e para todos os interessados.

LB: Falando sobre militares dos Estados Unidos, sabe-se que eles estavam por todos os lados na Ilha de Colares acompanhando os trabalhos dos militares da Operação Prato. A questão que fica é a de que a Operação Prato nunca foi encerrada e seu comando foi secretamente transferido para os norte-americanos, ou seja, ela continuou debaixo de forte sigilo. O que você sabe sobre isso? 

CM: Durante o tempo em que estive em Colares não vi esses norte-americanos. Em Belém, sim. Eu frequentava muito o consulado dos Estados Unidos, onde costumava pegar discos emprestados — de jazz, rock e blues — para devolver no final do mês. Os norte-americanos tinham um bom entrosamento com estudantes e jornalistas paraenses. Conheci alguns deles, que falavam um português arrastado e sempre discorriam sobre as luzes que apareciam na região do Salgado paraense. Um deles cheguei a encontrar certa vez no I Comando Aéreo Regional (COMAR), quando aguardava em uma antessala do comandante o momento de uma entrevista com o brigadeiro Protásio Oliveira. Foi só. Depois, aos poucos, fui sabendo de mais coisas e comecei a ligar os fatos. No livro Luzes do Medo isso está detalhado, inclusive sobre a descoberta do agente secreto, o peruano Juan.

LB: Uma grande polêmica na Ufologia Brasileira diz respeito ao suicídio do coronel Hollanda, em outubro de 1997, apenas alguns meses após dar a histórica entrevista à Gevaerd. Muita gente diz que ele foi morto pelos serviços de inteligência do Governo Brasileiro, mas isso não faz sentido algum. Afinal, ele já havia falado e a operação se encerrara já havia 20 anos. O que você pode nos dizer sobre isso?

CM: Não acredito na teoria conspiratória de que a morte do Hollanda tenha sido planejada e executada de forma tão primária. Em 1981, depois do final da Operação Prato, encontrei o capitão e ele estava amargurado, triste. Soube depois que ele estava magoado pela forma como a operação havia sido encerrada. Não gostaria de entrar em detalhes sobre essa conversa. Ele, porém, chegou a dizer que eu tinha razão em ter ficado em Colares, quando ele próprio não queria minha presença na ilha. Eu também disse que não tinha nada contra ele e que admirava o trabalho que ele fizera durante o tempo em que esteve naquela região. Soube por agentes do SNI que Hollanda estava apressando sua saída do Pará — não queria ficar mais em Belém, apesar de a família dele morar na cidade. É tudo que sei.

LB: Você acredita que algum dia toda a verdade sobre a Operação Prato virá à tona, que todos os documentos ainda secretos mantidos pela Aeronáutica serão revelados? 

CM: Sinceramente, não tenho ilusões quanto a isto, mas gostaria que esse segredo fosse removido pela própria Aeronáutica. Não há sentido em alimentar tanto mistério, a menos, como já disse, que coisas muito graves tenham ocorrido durante a Operação Prato e que precisem ser mantidas em sigilo pelos próximos 30 anos ou mais. Nesse caso, os documentos e filmes nem seriam mais secretos, e sim ultrassecretos.

Não tive naquele momento a certeza de que eram inteligências extraterrestres, mas a tentativa de abafar os fatos despertou minha desconfiança de que tudo era muito grave e misterioso, apontando para uma direção que os céticos se recusam em admitir.

LB: Você já se perguntou por que esses acontecimentos se concentraram justamente no Pará, no final de 1977? 

CM: Várias vezes me surpreendi fazendo a mim essas perguntas. O que tem o Pará de especial para atrair aquelas luzes e de forma tão agressiva com aqueles ataques? Os maranhenses também devem se perguntar o mesmo. Foi lá, afinal, que tudo começou, no célebre ataque na Ilha dos Caranguejos, em abril de 1977, produzindo morte e queimaduras graves nos sobreviventes. Não tenho qualquer explicação para essas manifestações em minha terra. Aliás, se eu tentar buscar uma explicação, vou acabar ficando louco…

LB: Você acha que a cultura do sobrenatural e do maravilhoso, que caracterizam a cultura paraense, tem alguma afinidade com o Fenômeno UFO? 

CM: O Pará tem as suas peculiaridades culturais e nele a herança dos povos da floresta, das lendas e crendices se traduz na música, nas artes plásticas, na poesia e na prosa literária. Tudo é realisticamente fantástico para nós. Um dos maiores escritores do mundo é um paraense, chama-se Vicente Franz Cecim. O Franz em seu sobrenome é uma homenagem ao genial escritor Franz Kafka. Com dezenas de livros publicados, Cecim transita com desenvoltura nas narrativas sobre os seres de outros mundos que navegam pelo universo amazônico, misturando o real e o irreal, em uma continuidade primorosa. Ele, aliás, está louco para ler Luzes do Medo. Frequenta minha casa, mas nunca mostrei nada do livro a ele. O paraense tem por natureza essa afinidade com o mistério. Os amigos da Revista UFO precisam conhecer o trabalho do Vicente Cecim — quem sabe até consigam persuadi-lo a publicar um artigo nessa conceituada publicação.

LB: Que mensagem você gostaria de deixar para os leitores da UFO? 

CM: Primeiro, agradecer a oportunidade de contar o pouco que sei sobre as experiências que vivi como repórter em 1977 e 1978, durante as aparições das luzes não identificadas no Pará, e toda a carga de mistério até hoje não desvendado que elas trouxeram para os investigadores do fenômeno. Segundo, manifestar a alegria pela existência dessa revista, fundamental nesses tempos de internet, em que fórmulas prontas e acabadas invadem a toda hora a casa dos brasileiros, tornando-os reféns de informações inúteis e sem checagem. Há muitas fake news nas redes sociais e isso prejudica o trabalho de gente séria e investigadores da casuística ufológica. Uma publicação impressa, como a UFO, precisa existir para separar o falso do verdadeiro, o joio do trigo. A qualidade editorial e o tratamento decente da informação é que fazem a diferença. Não à toa, é a revista mais antiga do planeta nesse tipo de abordagem. Vida longa a ela.