Lallá Barretto entrevista o professor e pesquisador da Universidade Federal de São Carlos, UFSCAR – Fernando M. Araújo Moreira.

A Ufologia brasileira encontra-se hoje numa encruzilhada devido à própria complexidade do fenômeno Ufo. Temos grandes pesquisadores que perseguem o caminho da ciência, e aqueles que, por falta de provas concretas que possam ser consideradas científicas, passam para o lado espiritualista, também presente no fenômeno Ufo, mas que é um campo problemático para a elaboração de um conhecimento que valha para todos, já que o único conhecimento que resulta daí é subjetivo e diretamente ligado à adesão a um sistema de crenças.

Lallá Barreto (LB): Então, gostaria que você, como cientista, nos dissesse o que é a ciência.

Fernando Moreira (FM): Antes de tudo é necessário esclarecer que as ciências que neste momento vou discutir são as ciências exatas, e não outras tais como ciências sociais, politicas, ocultas, etc.

Concordo que a Ufologia brasileira encontra-se hoje numa encruzilhada, mas não necessariamente associada apenas à própria complexidade do fenômeno ufo. Acredito que essa situação deve-se mais ao fato de que nas ultimas décadas o mundo mudou muito, principalmente em relação aos novos recursos que a ciência e a tecnologia colocam à nossa disposição e que não são utilizados em toda a sua extensão nem com todo o seu potencial por aqueles que trabalham com ufologia. E, nesse contexto, para mim é muito clara a necessidade de se separar a ufologia científica (baseada exclusivamente no método científico) das outras, principalmente aquelas mais relacionadas a conceitos religiosos, devendo ser absolutamente objetiva (i.e., sem nenhuma subjetividade) e rejeitar veementemente a influência nela de qualquer tipo de crença.

No mundo atual, caracterizado por intensa globalização e forte industrialização, cabe à ciência dar o aval para praticamente tudo o que representa uma tecnologia e/ou um bem de consumo em prol do progresso humano. Assim, o que não for cientificamente comprovado – a princípio – não possui crédito e não é confiável. Mas, sabemos que isso mudou somente a partir do século XVIII. Até então o principal discurso legitimador cabia quase que exclusivamente à Igreja com sua doutrina da fé em um Deus como sendo superior à razão. A partir desse momento, o desenvolvimento da ciência e do método científico – e que culminara com a Revolução Industrial – deu início à chamada secularização, definida como o momento em que a ciência tira a religião do seu pedestal de maneira definitiva deixando de ser a guia absoluta da conduta humana. Através desse processo a fé em Deus foi substituída pela fé na razão dando lugar ao chamado iluminismo (ou século das luzes) o qual se difundiu pela Europa com pensadores como John Locke, Voltaire e Jean-Jacques Rousseau. A ufologia atual precisa passar pelo mesmo processo de secularização separando nela ciência de crença.

Ao longo dos séculos, o progresso humano em todos os aspectos (inclusive moral e ético) é inegável. Certamente esse progresso tem sido muito mais intenso nas áreas cientificas e tecnológicas do que nas áreas humanas. Em qualquer área do conhecimento o processo de estudar, entender, aprender e progredir é um sacrifício quase indescritível, mas estamos no caminho certo (provavelmente mais lento do que muitos desejaríamos, mas é o caminho certo). Apenas oitenta e oito anos atrás o médico e bacteriologista escocês Alexander Fleming descobriu a penicilina, que está disponível como fármaco a apenas setenta e seis anos (desde 1941). Nós, humanos, demoramos ao redor de mil e quinhentos anos para duplicar a população mundial, passando de aproximadamente 350 milhões dois mil anos atrás, para 700 milhões na Idade Média. Na década de 1960, quando eu nasci, éramos ao redor de três bilhões de seres humanos, e hoje, passadas apenas seis décadas ultrapassamos a assustadora marca dos sete bilhões, passando de uma expectativa de vida de pouco mais de quarenta anos (há dois mil anos) para mais de oitenta anos nos dias de hoje. 

Certamente, e seguindo a inseparabilidade entre o bem e o mal, algumas coisas derivadas do conhecimento científico têm sido aplicadas de maneira errada, mas em linhas gerais o progresso que alcançamos é indiscutível. E quem são os grandes responsáveis por esse progresso? A ciência e os cientistas que descobrem, e os engenheiros que fazem dessa descoberta um bem de consumo e de bem-estar. Por isso acho injusto, descabido e de uma ignorância ímpar alguém dizer que não confia nos cientistas. Esses indivíduos deveriam ser coerentes, parar de usufruir tudo o que significa progresso e qualidade de vida, e voltar a viver nas cavernas sobrevivendo da caça e da pesca! Essa ciência progressista permitiu a nós humanos chegar até aqui, e conhecermos desde objetos localizados desde 10 bilhões de anos luz até as profundezas do átomo a apenas 1 fentômetro (10-15m) abrangendo mais de inacreditáveis quarenta ordens de grandeza!

É justamente essa ciência – a qual tem nos permitido alcançar conquistas inimagináveis – o que temos que usar como fundamento da ufologia científica para assim dar a ela um choque de qualidade e, principalmente, de credibilidade nos meios à ela mais refratários tais como o acadêmico. A ufologia só tem a ganhar com essa mudança.

Mas em que consiste, de fato, a ciência que mencionei anteriormente? Para iniciar essa explicação, vou considerar a diferença dela com o conceito de e com o conceito de pseudociência. A é um termo que significa confiança, crença, credibilidade. Ela é um sentimento de total crença em algo ou alguém, ainda que não haja nenhum tipo de evidência científica que comprove a veracidade da proposição em causa. Ter fé implica numa atitude contrária à dúvida e está intimamente ligada à confiança. De acordo com a sua etimologia, a palavra fé tem origem no termo grego pistia que indica a noção de acreditar e no termo em latim fides, que nos remete para uma atitude de fidelidade. E, é claro, no contexto religioso, a fé é a virtude daqueles que aceitam como verdade absoluta os princípios difundidos por sua religião, qualquer uma que ela seja.

Por outro lado, uma pseudociência é um conjunto de crenças ou afirmações que se considera equivocadamente como tendo base ou estatuto científico dando lugar ao que alguns chamam de pseudosofia. Também, é possível definir uma pseudociência como um conjunto de teorias, métodos e afirmações com aparência científica, mas que partem de premissas falsas e/ou que não usam métodos rigorosos de pesquisa.

Levando isso em conta, e a partir do que definirei como ciência, nos próximos parágrafos vai ficar claro que:

Na ciência se procura evidência onde quer que ela possa estar; na fé e/ou nas pseudociências se começa por elaborar uma conclusão e só a partir dai se busca uma confirmação;

A ciência adota sempre o ceticismo; na fé e/ou nas pseudociências sempre há uma enorme hostilidade aos céticos;

A ciência usa terminologia precisa e com definições claras; na fé e/ou nas pseudociências – em geral – se usa um jargão vago e evasivo com o objetivo claro de causar confusão;

Na ciência as alegações são cautelosas e temporárias; na fé e/ou nas pseudociências as alegações são grandiosas e estão muito além das evidências;

A ciência considera corretamente todas as evidências e argumentos; na fé e/ou nas pseudociências só são consideradas aquelas evidências favoráveis confiando basicamente em provas testemunhais e não em provas materiais;

A ciência utiliza métodos rigorosos e reproduzíveis; na fé e/ou nas pseudociências se utilizam – em geral – métodos falhos e não reproduzíveis;

Na ciência, os cientistas trabalham em conjunto com os seus pares e com a comunidade; na fé e/ou nas pseudociências, dissidentes trabalham solitariamente e em isolamento sem o submetimento de suas teorias e dos seus achados a uma avaliação cega pelos seus pares e, principalmente, pela comunidade científica;

A ciência considera cuidadosamente a lógica; na fé e/ou nas pseudociências é usada lógica inválida e inconsistente;

A ciência pode mudar a cada nova evidência; a fé e/ou as pseudociências são dogmáticas e inflexíveis.

Em nenhum momento tenho a intenção de desqualificar, ofender nem muito menos menosprezar atividades religiosas e/ou pseudocientíficas desde que bem intencionadas e sinceras. Todas elas, em geral, deixam algum tipo de aprendizado. Minha crítica é quando uma ou ambas querem, intencionalmente e com os mais diversos objetivos, se revestirem de algum tipo de ciência, seja ela qual for. Nesse sentido, e muito sabiamente, Carl Sagan, no seu livro “O Mundo Assombrado pelos Demônios” diz:

Cada área da ciência tem o seu próprio complemento de pseudociência. Os geofísicos têm de se haver com Terras chatas, Terras ocas, Terras com eixos loucamente oscilantes, continentes que emergem e afundam rapidamente, além de profetas de terremotos. Os botânicos têm plantas cuja ardente vida emocional pode ser monitorada com detectores de mentiras, os antropólogos têm homens-macacos sobreviventes, os zoólogos têm dinossauros remanescentes, e os biólogos evolutivos têm os literalistas bíblicos mordendo o seu flanco. Os arqueólogos têm astronautas antigos, runas forjadas e estatuária espúria. Os físicos têm máquinas de movimento perpétuo, uma multidão de refutadores amadores da teoria da relatividade, e talvez a fusão a frio. Os químicos ainda têm a alquimia. Os psicólogos têm grande parte da psicanálise e quase toda a parapsicologia. Os economistas têm previsões econômicas de longo alcance. Até agora, os meteorologistas têm a previsão do tempo a longo prazo a partir das manchas solares, como no Farmer’s Almanac (embora a previsão do clima a longo prazo seja outra história). A astronomia tem, como sua pseudociência mais importante, a astrologia — a disciplina que lhe deu origem. As pseudociências às vezes se cruzam, combinando a confusão — como nas buscas telepáticas dos tesouros enterrados de Atlântida, ou em previsões econômicas astrológicas”.

Mesmo levando em conta os conceitos de fé e pseudociência antes mencionados, definir ciência não é trivial. Para Charles Darwin, “ciência consiste em agrupar fatos para que leis gerais ou conclusões possam ser tiradas deles“. Com todo respeito ao seu autor – monstro sagrado do mundo científico – sua afirmação não me satisfaz. Provavelmente porque o mundo mudou, e mudou muito nas ultimas duas décadas. Como consequência disso, a nossa visão do Universo – para cima (p.ex. das galáxias) e para baixo (p. ex. do nano-mundo) – mudou através da quebra de inúmeros paradigmas. Formalmente, o Dicionário do Aurélio define ciência como sendo Saber, instrução, conhecimentos vastos, ou, alternativamente, como sendo o conjunto de conhecimentos fundados sobre princípios certos. Mas para mim, como cientista, ambas as definições são vagas e incompletas. No primeiro caso, ela poderia se aplicar também ao conceito de técnica (embora esse dicionário a defina de forma diferente). No segundo caso, o termo “princípios certos” é vago e subjetivo. Onde está o problema? Ambas as definições se esquecem do fundamental: o conteúdo de toda e qualquer ciência exata, deve – necessariamente – ser produto da aplicação do método científico. E é justamente ai que a grande maioria das pessoas falha, até de maneira não intencional, ao considerar alguma coisa como sendo produto da ciência.

Em geral quase ninguém questiona se tal ou qual fato – supostamente um produto da ciência – foi realmente uma consequência de um estudo suficientemente aprofundado e sério que teve como premissa básica a aplicação do método científico. Mas, em geral, acredito que não o façam com más intenções; simplesmente eles vão no empolgue da notícia se esquecendo do fundamental: a origem desse conhecimento. O método científico pode ser considerado como um conjunto de regras básicas daqueles procedimentos que visam criar conhecimento. Esse processo está baseado em juntar evidências empíricas verificáveis — baseadas na observação sistemática e controlada, geralmente resultante de experiências ou pesquisa de campo — e analisá-las com o uso da lógica. Para muitos autores, o método científico nada mais é do que a lógica aplicada à ciência. Vale destacar que o método começa pela observação, que deve ser sistemática e com todas as suas variáveis controladas, visando a obtenção dos dados científicos. O método científico é cíclico, girando em torno do que alguns denominam de teoria científica. Essa teoria nada mais é do que a união indissociável do conjunto de todos os fatos científicos conhecidos e associados direta ou indiretamente ao fenômeno estudado, e de um conjunto de hipóteses testáveis e testadas capaz de explicá-los. Os fatos científicos, embora não necessariamente reprodutíveis (por exemplo, eventos astrofísicos fora do controle humano) têm que ser, sim, necessariamente passíveis de verificação.

Verifica- se então que a receita para termos um conhecimento confiável (produto do método científico) é muito simples. Muitas vezes essa receita não é aplicada por falta de conhecimento (por aqueles bem-intencionados, porém não capacitados) ou por falta de caráter de pessoas tentando empurrar supostos fatos científicos visando algum tipo de ganho ou conquista seja ela pecuniária ou não.

É importante que toda ciência e todo conhecimento que dela seja fruto, seja precedida – e fortemente influenciada – por uma etapa filosófica, e, em particular, epistemológica. Sendo a filosofia definida como o amor pelo saber, e, particularmente, pela investigação das causas e dos efeitos, ela se torna uma etapa prévia fundamental na geração do conhecimento. Isso se torna essencial nas ciências exatas na epistemologia do fenômeno, área da filosofia que trata dos problemas que se relacionam com o conhecimento humano, refletindo sobre a sua natureza e validade.

Mas, além da filosofia e da epistemologia como bases da ciência, considero essencial que todo conhecimento científico tenha como origem uma etapa metafísica. De acordo com Aristóteles, a metafísica é a subdivisão fundamental da filosofia, caracterizada pela investigação das realidades que transcendem a experiência sensível, capaz de fornecer um fundamento a todas as ciências particulares por meio da reflexão a respeito da natureza primacial do ser. Por outro lado, e de acordo com Kant, a metafísica é o estudo das formas ou leis constitutivas da razão, fundamento de toda especulação a respeito de realidades suprassensíveis (a totalidade cósmica, Deus ou a alma humana), e fonte de princípios gerais para o conhecimento empírico.

É possível ver, portanto, que ambas as definições mostram claramente quão fundamental é a etapa metafísica na geração de conhecimento.

Resumindo, se constata que na geração de conhecimento científico que alimente o conteúdo de uma determinada ciência, existem etapas prévias que são desejáveis, porém não obrigatórias (filosófica, epistemológica e metafísica) e uma etapa obrigatória que em última instancia é a que, de fato, gera o conhecimento: a aplicação do método científico.

LB: Por que a Ufologia não pode ser considerada como ciência?

FM: A palavra ufologia significa campo de estudo dos ufos, ou óvnis, ou seja, dos objetos voadores não identificados. Essa denominação significa literalmente que existem – e observamos – objetos que voam e que não conseguimos identificar através da nossa experiência e conhecimento. 

Desde o meu ponto de vista, um dos erros primordiais da ufologia que não permite que ela seja considerada como ciência começa quando o observador (ou um hipotético ufólogo) admite que esses objetos desconhecidos tenham uma explicação baseada em sua crença religiosa pessoal e/ou quando ele passa a afirmar que, por não ter uma explicação plausível, ele automaticamente é de origem extraterrestre. O correto, na maioria dos casos, seria dizer “não tem explicação científica plausível para a ciência atual” desde que se chegue a essa conclusão através do uso do método científico e por quem detém esse conhecimento científico, sobre o qual me explanei na resposta da primeira pergunta.

Independentemente do tipo de ufologia que se considere (clássica, casuística, esotérica, mística, avançada, espiritualista, etc.) quais deveriam ser as suas características para ser considerada uma ciência? Vamos supor que ela seja uma ciência cujo conteúdo de conhecimento ainda se encontra vazio. Qual seria então a maneira de preencher esse vazio dando corpo à ciência chamada de ufologia? De acordo com o que descrevi na questão anterior, isso somente poderia ser feito exclusivamente através da aplicação do método científico ao estudo dos óvnis. Então, vou considerar os seguintes aspectos do método científico e depois aplicar eles à ufologia:

Observação – é neste caso o procedimento científico de investigação que consiste no exame atento de um fato, de um processo, envolvendo instrumentos ou pode ser feita de forma simples a olho nu. Todavia, deve ser controlada em todas as suas variáveis com o objetivo de que seus resultados correspondam à verdade e não a ilusões advindas das deficiências inerentes próprias dos sentidos humanos em obter a realidade.

Descrição – é a representação oral ou escrita de um experimento, processo ou procedimento com a enumeração circunstanciada e detalhada dos caracteres de algo. O experimento necessita ser replicável, ou seja, passível de ser reproduzido desde que seguidas sempre as mesmas condições experimentais aplicando os procedimentos necessários para testar as hipóteses, e não os fatos em si, que não precisam ser antropogenicamente reproduzidos (fatores antropogênicos: causados pela ação do ser humano, contrapondo-se às ações naturais sem interferência humana), mas apenas verificáveis.

Previsão – é o ato ou o efeito de prever; é a conjectura, a antevisão ou a presciência, ou também a antecipação, na base de suposições, do que ainda não aconteceu. Assim, na previsão as hipóteses precisam ser tidas e declaradas como válidas para observações realizadas no passado, no presente e no futuro. Uma ferramenta extremamente útil que as ciências exatas hoje utilizam na previsão de fenômenos é a chamada simulação computacional.

Controle – Para maior segurança e confiabilidade nas conclusões, toda experiência deve ser controlada, ou seja, deve ser realizada com técnicas que permitem descartar as variáveis passíveis de mascarar o resultado.

Falseabilidade – também chamada de refutabilidade é a propriedade de uma asserção, ideia, hipótese ou teoria poder ser mostrada falsa. Este é um conceito importante na epistemologia e foi proposto por Karl Popper nos anos 1930 como solução para o chamado problema da indução. Toda hipótese deve conter a testabilidade, ou seja, ser falseável ou refutável. Isso não quer dizer que a hipótese seja falsa, errada, dúbia ou duvidosa, mas sim que ela pode ser verificada, contestada. Ou seja, ela deve ser proposta em uma forma que possamos atribuir a ela ambos os valores lógicos, falso e verdadeiro, de forma que se ela realmente for falsa, a contradição com os fatos ou as contradições internas com a teoria apareça naturalmente e demonstre a sua validade.

Explicação das Causas – também chamada de causalidade é a ligação entre a causa e o efeito. É a relação entre dois acontecimentos ou estados de coisas, fatos ou objetos, observada quando o surgimento do primeiro induz, origina ou condiciona a ocorrência do segundo. Em todas as áreas da ciência a causalidade é o fator chave, e não conheço nenhuma teoria científica que viole a causalidade. Nessas condições os seguintes requisitos são vistos como importantes no entendimento científico: (1) identificação das causas; (2) correlação dos eventos; (3) ordem dos eventos.

Analisando os pontos anteriores, fica claro que a ufologia atual, que mistura de forma quase descontrolada ciência e religião, não preenche praticamente nenhum dos aspectos do método científico, e sim, aqueles associados com fé e/ou pseudociência. Uma parte significativa da ufologia atual é subjetiva e está associada/influenciada por diferentes crenças o que – desde o meu ponto de vista – elimina toda e qualquer possibilidade dela ser considerada como ciência.

Acredito firmemente que, até que a ufologia atual não preencha os aspectos antes mencionados a única possibilidade de ela passar a ser considerada uma ciência e começar a ser levada mais seriamente por setores como o acadêmico, é – se isso for do seu interesse, claro – ela se separar do conjunto atual de tendências pseudocientíficas e/ou religiosas e se converter numa verdadeira ufologia científica que tenha como foco principal a coleta de informações baseada exclusivamente no método científico. Acredito também que essa verdadeira revolução/evolução na ufologia atual valha a pena mesmo que isso signifique diminuir o seu tamanho, tanto de seguidores quanto de quantidade de informação (que a partir dessa transformação será realmente confiável). Assim, indubitavelmente, ela estará aumentando, e muito, a sua qualidade e credibilidade. Não vejo nenhum outro caminho que permita levar a ufologia atual a ser considerada como ciência.

LB: Quando colocamos a Ufologia na perspectiva do método científico, o primeiro problema que se apresenta é relativo à própria definição do objeto que queremos conhecer, ou seja, luzes, naves, objetos tecnológicos, seres, diversas formas de contato, numa infinidade de manifestações diferentes. Como você enunciaria cientificamente o objeto da Ufologia?

FM: Primeiramente, e a modo de introdução, vou considerar a minha área principal de trabalho: a Física. Uma característica essencial da pesquisa nessa área é a busca das propriedades mais fundamentais e dos fenômenos associados visando a sua compreensão e descrição em termos de leis. Esta ciência – a mais fundamental de todas – investiga desde partículas subatômicas, átomos e moléculas, até fenômenos que envolvem grandes aglomerados dessas partículas, desde clusters magnéticos nanométricos até galáxias. Como falei anteriormente, essa faixa de estudo envolve mais de quarenta ordens de grandeza. Assim, a Física tem como objeto de estudo o universo, em toda a sua extensão e complexidade. E a ufologia atual? Tem sido pouca ou nula a sua interação a nível acadêmico com outras áreas científicas. Um bom exemplo do que a ufologia deve começar a fazer para ir em direção do seu reconhecimento como ciência é seguir o método adotado recentemente no estudo multi, inter e transdisciplinar dos agroglifos onde dados (físicos, químicos, biológicos, etc.) concretos foram apropriadamente colhidos e estão, ainda, sendo analisados seriamente e com rigoroso método científico. Isso eu garanto porque formo parte dessa extraordinária equipe organizada pela Revista UFO.

Assim, desde o meu ponto de vista, a ufologia atual não tem claramente definido o seu objeto de estudo, pois assumir a existência de objetos voadores não identificados não é a mesma coisa que admitir a existência de vida, inteligente ou não, externa ao nosso planeta. Tenho manifestado em diversas oportunidades que existe a possibilidade, mesmo que remotíssima, que esses objetos (i.e., óvnis) com tecnologias de voo incríveis possam, sim, ter origem terrestre. Quem pode garantir que eles não são fruto de uma civilização muito antiga e ultra-avançada que tenha preferido viver paralelamente a nós se mantendo à margem da nossa civilização? Ou, alternativamente, que as modernas observações de objetos com habilidades incríveis de voo não possam ter origem em laboratórios norte-americanos financiados pela CIA, USAF, etc., ou em grupos nazistas que, sem duvida, sobreviveram à segunda guerra mundial e às perseguições posteriores, com enormes recursos científicos, tecnológicos e, principalmente, financeiros? 

Alguns ufólogos reconhecem essa possibilidade, mas afirmam que esses grupos obtiveram esse conhecimento vindo de extraterrestres o que é para mim, como cientista, uma atitude temerária pela absoluta e incontestável falta de provas cientificas (relatos, registros, testemunhos e observações que não podem ser provadas não são evidências do ponto de vista científico, embora em outras áreas, como as ciências jurídicas, elas possam ser consideradas como tais). Como cientista e como humano, considero que afirmar isso de forma categórica é, tanto ofensivo, quanto ignorante. É ofensivo porque denota desprezo pela enorme capacidade de invenção, criatividade e superação da nossa raça. É ignorante porque mostra um profundo desconhecimento do sacrifício intelectual que tem significado chegarmos até aqui como civilização.

Essa infinidade de manifestações diferentes mencionadas no corpo da pergunta e supostamente associadas com seres vindos de outros mundos podem, praticamente todas elas, estar relacionadas a essas outras possibilidades que menciono no parágrafo anterior sem nada ter a ver com origem extraterrestre.

Considero que, em principio, a única exceção nessa lista de manifestações da questão original que de fato poderia estar associada única e exclusivamente à existência de extraterrestres é a observação e o contato com seres inteligentes claramente diferentes de nós, humanos. Ironicamente, foi esse tipo de experiência pessoal o que me trouxe para a ufologia. Mas não tenho provas materiais disso, apenas o meu testemunho. Em relação a essa minha experiência é impossível aplicar a ela o método cientifico essencial ao seu reconhecimento. Portanto, sei que ela não tem nenhum valor científico; ela só tem servido como fortíssima motivação pessoal para estudar os assuntos correlatos ao fenômeno ufo.

Se eu tivesse que definir o objeto da ufologia, ele seria unicamente o estudo de exo-seres inteligentes. O resto seria consequência disso.

LB: Você imaginaria um método que pudesse ser aplicado a tal objeto?

FM: O método cientifico tradicional deve ser aplicado sempre, independentemente do objeto estudado. Se o objeto da ufologia fosse o estudo de exo-seres inteligentes, o método científico tradicional ainda seria válido. Obviamente, existiria a possiblidade de termos que desenvolver novas tecnologias para viabilizar a sua aplicação. Mas a sequencia de passos do método baseados numa visão empírica da comprovação de qualquer fenômeno deve prevalecer sempre.

Nesse, como no estudo de qualquer outro fenômeno, devemos ter sempre presente a máxima que diz que a ausência de prova não é prova da ausência, e devemos ser absolutamente intransigentes quanto a cair no erro de utilizarmos o denominado argumento da ignorância.

LB: Você diz que a Ufologia vem se misturando perigosamente com a religião. No Brasil, a Ufologia nasceu buscando a ciência e produziu os maiores ufólogos do planeta nessa linha, que desenvolveram suas próprias metodologias ou utilizaram outras existentes. Faltaria à Ufologia extrair o conhecimento que a metodologia encerra?

FM: Ufologia e religião são duas áreas completa e intrinsecamente diferentes. Pelo menos deveriam ser. Forçar a sua junção no atual estado de arte de ambas me parece, dentre outras coisas, uma atitude muito pouco inteligente, principalmente por parte dos ufólogos tradicionais. 

Como já mencionamos na resposta à questão 2, a ufologia, que na verdade em bom português deveria ser denominada de ovniologia (ou conjunto de conhecimentos relativo aos objetos voadores não identificados) é uma área de conhecimento relativamente nova com apenas algumas décadas de existência. Provavelmente, ela se iniciou com o caso Roswell em 1947. A ufologia não está necessariamente relacionada com o estudo da existência de vida extraterrestre nem com a sua visita ao nosso planeta. Qualquer objeto que voe e que seja desconhecido pode ser objeto de estudo desta área. Obviamente, então, ela também inclui o estudo dos fenômenos extraterrestres, mas não se limita somente a eles. Sendo assim, e seguindo os argumentos que expressei nas respostas à primeira e à segunda questão, surge a seguinte pergunta: onde entra o conceito de na ufologia? Em lugar nenhum. Mas em religião, qualquer uma que ela seja, a fé é um fator primordial e essencial. Como já mencionei na resposta à primeira questão, o conceito de Fé implica em ter uma atitude contrária a toda e qualquer dúvida, e está associado com a total crença em algo ou alguém, mesmo que não existam evidências que fundamentem que a proposição em causa seja verdadeira. Podemos ler em Hebreus 11.1: Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam; é a convicção de fatos que não se vêm. Por conta disso, religião é definida como a crença na existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e obediência. Desde o início dos tempos, nós, humanos, temos desenvolvido um profundo respeito e devoção pela coisa divina através das mais diversas formas de culto. Fica então claro que ufologia e religião são áreas diametralmente opostas em todos os aspectos e que, a meu ver, atualmente não devem ser misturadas, principalmente visando a aceitação da ufologia pelos setores a ela mais refratários. Assim como as ciências ortodoxas não misturam conceitos religiosos e se baseiam exclusivamente no método científico, a ufologia deve trilhar o mesmo caminho se quer chegar a ser uma ciência universalmente respeitada como o são a Física ou a Química. 

Acredito que no futuro, provavelmente, possam vir a aparecer evidências disruptivas (fatos científicos sólidos e inquestionáveis que aparecem abruptamente) que forneçam subsídios para tornar válida a criação de uma nova área que resulte da junção da ufologia com a religião. Mas, desde o meu ponto de vista, o atual conhecimento não permite isso, nem minimamente, por mais que os diretamente envolvidos assim o manifestem. Nesse contexto existe um caso particular muito interessante que considero essencial ser discutido no escopo desta pergunta, e que mencionei no terceiro parágrafo da segunda questão: a ufologia espiritualista. À luz dos parágrafos anteriores e da minha resposta à segunda questão, essa área da ufologia se constitui claramente de uma pseudociência.

De acordo com Gilson C. de Oliveira, o espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. Por outro lado, de acordo com o Dicionário Online de Português, o termo pode ser definido como a doutrina de teor religioso e filosófico que busca o aprimoramento moral do indivíduo, através dos ensinamentos passados pelos espíritos, almas desencarnadas, cuja comunicação com os vivos é realizada pelos médiuns. Dizia Allan Kardec: “Assim como o rosto de nenhum homem é igual ao de outro da mesma forma são diversas as civilizações espalhadas pelo espaço. Elas divergem segundo as condições que lhes foram prescritas e de acordo com o papel que cabe a cada uma no cenário universal”. Dessa maneira, a ufologia espiritualista trata, segundo os seus seguidores, da presença ostensiva de espíritos extraterrestres em centros espíritas do Brasil e do mundo, que, através de um contato puramente espiritual estariam trocando informações conosco visando propiciar um ambiente adequado para que um hipotético contato em massa não venha provocar efeitos catastróficos indesejados tais como caos, pânico, suicídios em massa, etc. 

Já vimos que uma religião é um conjunto de sistemas culturais e de crenças que estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais, tendo narrativas, símbolos, tradições e histórias sagradas que se destinam a dar sentido à vida ou explicar tanto a sua origem quanto a do próprio universo. Dessa maneira, não há duvidas que o espiritismo não seja uma ciência, mas sim uma religião. Então, parece ficar claro que a ufologia espiritualista nada mais é do que a religião espírita que conhecemos há décadas, mas agora aplicada numa outra categoria de entidades espirituais, neste caso, de origem extraterrestre. Ou seja, ela continua sendo uma religião independentemente do objeto de estudo (i.e. o tipo de entidade espiritual) aonde ela se aplique.

Pessoalmente, penso que acreditar que existem espíritos terrestres ou extraterrestres que se comunicam ou não conosco não é racional, mas sim uma questão de fé, caracterizando esse como sendo um ato religioso pessoal. A fé de quem crê em alguma coisa não pode ser colocada em dúvida pela opinião pessoal de outro indivíduo, seja ele cientista ou não. A fé, base da religião, não se fundamenta em argumentos racionais então, obviamente, não faz sentido utilizar a racionalidade da ciência para sustentar essa fé. A fé, por definição, deve ser inabalável. Mas, se aparecerem evidências científicas robustas que cheguem a abalar essa fé, é porque ela não era inabalável, ou seja, nem tão forte nem tão cega como se acreditava ela ser. É justamente por isso que a ciência sempre triunfa; ela não é dogmática, nem permanente, nem subjetiva, nem tendenciosa. Ela é construída aos poucos através do rigoroso seguimento do método científico, de forma objetiva, sistemática, de maneira comprovável e com padrões e leis que mostram – e permitem entender – seus mecanismos, e que, ainda, permitem construir modelos auto-consistentes que nos dão a possibilidade de extrapolar o conceito atual para novas fronteiras e novas leis, num movimento dinâmico perpétuo de aperfeiçoamento do nosso conhecimento do universo. 

Como no caso da ufologia espiritualista, o problema aparece quando se tenta qualificar uma religião como sendo uma ciência e substituir por uma suposta – e duvidosa- racionalidade que não sobrevive nem superficialmente à aplicação do método científico. Definitivamente, essa rama da ufologia não é, nem de perto, uma ciência.

É a ciência e não a religião quem nos dá a única base concreta e segura do aprendizado científico e da expansão do nosso conhecimento sobre as leis do universo. Ser ou não religioso é independente de ser, ou não, um cientista competente. Pessoalmente, acho inacreditável que um cientista desse nível, perante a grandiosidade e a perfeição do universo, possa pensar que tudo isso seja obra do acaso negando, assim, a existência de um ser supremo. Certamente, esse não é o meu caso. Mas, novamente, essa é uma questão pessoal que é irrelevante do ponto de vista científico. Alguns seguidores da ufologia espiritualista tentam encontrar argumentos para validar seus estudos qualificando cientistas importantes como sendo religiosos. Por exemplo, nesse sentido é comum encontrar a citação da famosa frase de Albert Einstein “a ciência sem religião é manca, e a religião sem ciência é cega”. Usada desse jeito, ela está fora do seu contexto original e, portanto, a sua utilização não é válida da maneira que alguns adeptos à ufologia espiritualista o vêm fazendo. Quem é realmente informado sabe perfeitamente que o Einstein não acreditava em Deus. Isso fica fora de toda dúvida ao ler o texto escrito por ele no qual expressa suas opiniões sobre religião e que é conhecido como “Carta de Deus“. Essa carta de Einstein, escrita à mão em alemão no dia 3 de janeiro de 1954, aproximadamente um ano antes do cientista morrer, era destinada ao filósofo Erik Gutkind, de quem ele havia lido a obra: “Escolha a vida: o apelo bíblico pela revolta“. Nessa carta, Einstein disse: “A palavra Deus para mim é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana, a Bíblia é uma coleção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis”. Einstein não apenas deixa clara sua posição em relação a Deus, como também a sua posição como judeu, dizendo “para mim, a religião judaica, como todas as outras, é a encarnação de algumas das superstições mais infantis. E o povo judeu, ao qual tenho o prazer de pertencer e com cuja mentalidade tenho grande afinidade, não tem qualquer diferença de qualidade para mim em relação aos outros povos”.

Considero que ciência e religião são complementares, o que nos abre à possibilidade de termos uma formação humana mais completa, mais acorde com o nosso papel no universo. No meu caso particular como cientista, a religião, a filosofia, a música erudita, dentre outras áreas, são as que alimentam a minha alma. Ter fé religiosa é um privilégio tão importante quanto ter racionalidade científica. Mas dentro do laboratório, seja da área que for, tenho de ser absolutamente racional focando nos fatos e na aplicação do método científico. Nessa situação certamente posso manifestar o sentimento de fé, mas não do ponto de vista religioso. Fé de estar no caminho certo. Fé que vou conseguir atingir o objetivo que me programei alcançar, etc. Sozinha, a fé religiosa não vai fazer que uma reação química ocorra ou não, ou que um fenômeno físico aconteça ou deixe de acontecer. Nessa situação o que vale é apenas a lei natural correspondente e as suas condições e contorno e a minha competência científica para evidenciá-la. Assim, fé religiosa e racionalidade podem caminhar juntas, mas fora do experimento e, principalmente, fora do laboratório. 

A ufologia está no caminho de se tornar uma ciência, e, por conta de suas características, ela também precisa de um laboratório e de conhecimento puramente racional para chegar lá. Sem religião!

Por conta disso, definitivamente, a mistura da ufologia tradicional com segmentos religiosos é um caminho perigoso para a sua própria sobrevivência como futura ciência. Considero isso um enorme retrocesso.

Se a ufologia quer, de fato, chegar a ser uma ciência nos moldes das ciências tradicionais já consagradas ela deve formular sua própria metodologia baseada exclusivamente em fatos e conclusões derivadas da aplicação rigorosa do método científico. Isso não será possível se a fé religiosa formar parte dessa metodologia. Nem o instituto de pesquisa astronômica do Vaticano (Observatório do Vaticano, também conhecido como Specola Vaticana) coloca a fé como parte da sua metodologia. Seria inimaginável isso acontecer nas suas linhas de pesquisa cientifica, que incluem fotometria e espectroscopia sobre aglomerados estelares; estudo da distribuição espacial das estrelas de diferentes tipos espectrais; órbitas de estrelas duplas; produção de atlas de espectro de interesse astrofísico, entre outras.

Além da aplicação rigorosa do método científico, para se tornar uma ciência a ufologia deve ter consciência do seu caráter multi, inter e transdisciplinar e os seus adeptos devem ter estudo formal em uma ou mais das áreas que a compõem. Um exemplo disso, e que já mencionei na resposta à questão 3, é o estudo realizado no agroglifo de Prudentópolis de 2016, aonde a convergência do conhecimento puramente científico vindo de especialistas das mais diversas áreas resultou em informações extraordinárias. Qual foi a participação da fé religiosa nesse processo? Nenhuma. Só conhecimento, racionalidade e a aplicação rigorosa do método científico permitiram chegar nesses resultados. Adquirir conhecimento científico é tremendamente meritocrático e ninguém o obtém de maneira séria senão através dos livros e de muito tempo neles debruçado. É muito trabalhoso estudar e entender as forças e os mecanismos básicos que regem o universo. Por exemplo, no mundo da ufologia é muito comum encontrar pessoas honestas e de boa fé que consideram trabalhar com Física Quântica, mas sem nunca a ter estudado adequadamente. Alguém acha que entende de física quântica? Então, faça um auto-teste: entenda, explique e resolva as equações de Schrödinger dependente e independente do tempo. Não existe nada mais simples nessa área do que resolver essa equação. Todo o resto em Física Quântica é mais difícil e abstrato. Seja bem-vindo à verdadeira ciência!

A ufologia é, sem duvidas, uma mistura de tudo isso. Há mais de quarenta anos o seu estudo continua me fazendo brilhar os olhos quando tenho a chance de falar dos seus assuntos. Considero que não existe nada mais fascinante do que a ufologia, que espero, em algum momento, poder chamar de ciência. Sem religião!

LB: As ciências sociais participam com a Ufologia da mesma dificuldade: não têm a prerrogativa de provocar, nem de repetir os eventos que estudam. Ambas desenvolveram, porém, metodologias próprias, cumprindo assim uma das exigências para um conhecimento ser considerado científico, o estabelecimento de metodologias de pesquisa. A Ufologia é tão imaterial e inexata quanto a Antropologia, a História, a Sociologia, a Psicanálise, mas é inegável que o conhecimento que essas ciências trouxeram participa largamente do bem-estar social que você atribui unicamente às ciências exatas. Você poderia comentar essa questão?

FM: Em primeiro lugar eu não atribuo unicamente às ciências exatas o bem-estar social atual. Mas não tenho nenhuma dúvida de que elas são sim, junto com as diferentes áreas da engenharia, as grandes responsáveis por isso. No quarto parágrafo da resposta à primeira questão deixo isso claro, quando mostro a influência da ciência na qualidade de vida, traduzida em maior expectativa de vida e aumento da população mundial nos últimos 20 séculos. A humanidade demorou dezenas de milhares de anos para alcançar o primeiro bilhão de habitantes, o que aconteceu por volta do ano de 1800. Em seguida, foram necessários mais 130 anos para dobrar a população, alcançando assim o planeta, por volta do ano de 1930, os dois bilhões de habitantes. O terceiro bilhão foi atingido 30 anos depois, em 1960, e assim por diante numa evolução exponencial. E a expectativa de vida nesse mesmo período? Passou de aproximadamente 40 anos no início do cristianismo para mais de 80 anos atualmente. 

Mas o que é o bem-estar social e de quais fatores ele depende, de fato? Podemos considerar ele como sendo um conjunto de fatores que determinam a qualidade de vida de uma pessoa permitindo a ela manter uma existência tranquila, sem privações e, principalmente, com um estado de satisfação permanente. Vejamos então a contribuição das diferentes áreas da ciência para o bem-estar social. É inegável que as ciências humanas como as mencionadas no corpo da questão têm desempenhado um papel fundamental para termos alcançado o nível de bem-estar social hoje presente no mundo ocidental. Dentre essas ciências humanas vou escolher aquela que considero a mais fascinante delas e que é provavelmente a mais desconhecida do grande público: a antropologia. Podemos defini-la como sendo a ciência da humanidade e da cultura cujo extremamente vasto campo de investigação abrange toda a terra habitada, pelo menos dois milhões de anos de história e, ainda, todas as populações socialmente organizadas. A sua atuação fica mais evidente ao se considerar o seu campo de estudos que se divide em antropologia física (também denominada de antropologia biológica) e a antropologia cultural (também chamada de antropologia social). Esta última focaliza no principal conceito desta ciência, a cultura. Considerando novamente o grande público, acredito que ele seja muito pouco consciente da contribuição da antropologia, e das demais ciências humanas, para o bem-estar social. Por que isso? Porque acredito que essa contribuição das ciências humanas comparada com aquela associada às ciências exatas e à tecnologia (através das diferentes áreas da engenharia) seja muitíssimo menor em termos de impacto real e visível. Será? Vamos supor que as ciências exatas não tivessem tido, nem minimamente, o avanço que tiveram principalmente nos últimos 150 anos, mas a Antropologia, a História, a Sociologia, e a Psicanálise, sim. Assim sendo, hoje disporíamos de uma sociedade organizada, consciente do seu passado, equilibrada mental e economicamente, etc. Ou seja, usufruindo das máximas contribuições das ciências humanas antes mencionadas. Entretanto, nessa situação hipotética não disporíamos de energia elétrica, agua limpa, métodos de tratamento e diagnóstico em medicina, antibióticos, anticoncepcionais, antidepressivos, vacinas, satélites, computadores, tablets, telefone, celulares/smartphones, televisão, transportes aéreos e terrestres, roupas eficientes, e uma infinidade de outros itens que são consequência direta das ciências exatas e que representam uma fatia gigantesca na denominada sensação de bem-estar social. Em qual situação o grande público consideraria ter maior qualidade de vida e bem-estar social? Certamente na situação atual (real) onde pode dispor de todos esses recursos. Os intelectuais dirão que estou sendo materialista. Pode até ser. Mas estou sendo, sim, realista e muito pragmático. Desafio esses intelectuais a viverem sem esses itens tecnológicos que antes mencionei. O incremento da contribuição das ciências exatas e da tecnologia para o aumento da qualidade de vida e do bem-estar social tem sido fabuloso, principalmente nos últimos cinquenta anos.

Qual das ciências, exatas ou humanas, é então mais importante? As duas por igual, pois elas alimentam aspectos diferentes do ser humano. As ciências humanas alimentam mais proficuamente a nossa alma, o nosso espírito. As ciências exatas atendem de maneira mais eficaz as nossas necessidades físicas, fisiológicas e materiais.

Essa situação de contribuição assimétrica entre as ciências exatas e as ciências humanas também é crítica na ufologia. Mais do que apenas as ciências sociais, todas as ciências humanas participam junto da ufologia da mesma dificuldade no sentido de não ter a prerrogativa nem de criar nem de reproduzir de maneira controlada os eventos que estudam. Mas é verdade que, de uma ou outra maneira, ambas desenvolveram metodologias próprias, cumprindo assim uma das exigências para que um dado conhecimento possa vir a ser considerado científico, ou seja, estabelecimento de metodologias de pesquisa. Isso é muito claro nas ciências humanas. Mas nem tanto em relação à ufologia que, como manifestei na questão anterior, não acredito que ela possa ser, ainda, considerada como uma ciência justamente pela impossibilidade de aplicar a ela de maneira rigorosa o método científico em termos de ciências exatas. Também é verdade que alguns campos da ufologia são tão imateriais e inexatos quanto a Antropologia, a História, a Sociologia e a Psicanálise. O erro nessa comparação está no fato de que a ufologia, numa primeira fase, deveria ser estudada essencialmente através das ciências exatas, enquanto que as ciências humanas em geral quase que podem prescindir de física, química, etc. As ciências humanas podem se dar ao luxo de serem imateriais e inexatas pois elas igual funcionam em função de que o seu objeto de estudo também o é. Na ufologia isso é critico porque não é possível estudar uma nave alienígena invisível nem um ser extraterrestre imaterial. Essa invisibilidade, imaterialidade e inexatidão atingem o seu ápice quando se trata do estudo de um extraterrestre espiritual através da ufologia espiritualista. Nesse sentido, conheço ao longo de todo o Brasil, inúmeros físicos e engenheiros de excelência que também são espíritas e médiuns respeitadíssimos. Converso com eles de maneira frequente e, curiosamente, nenhum deles tem confirmado – nem minimamente – a presença nos centros espíritas que eles participam de entidades espirituais consideradas extraterrestres. Isso é uma pena, pois seria uma oportunidade ímpar de troca de conhecimentos técnicos e científicos entre as entidades (humana e extraterrestre) que falam a mesma linguagem técnico-científica em prol da melhoria de nosso mundo que parece ser o que eles desejam. Infelizmente, em função de que a ufologia espiritualista não permite nem minimamente a aplicação rigorosa do método cientifico, esse tipo de interação humano – extraterrestre não é possível de ser verificada, o que é um ponto essencial para que ela possa ser considerada como informação científica.

LB: Você faz parte de duas ordens esotéricas iniciáticas: a Maçonaria e os Templários. A iniciação esotérica é geralmente uma experiência subjetiva que vale para todos a partir da adesão individual a um sistema simbólico, e a instância simbólica é comum a todos os humanos, sendo considerado o que nos diferencia propriamente dos animais. Você falou com muita propriedade da importância civilizatória da ciência. Como se socializa o conhecimento iniciático? Qual a sua importância na vida social?

FM: De acordo com a literatura, o conceito geral de iniciação remete a um novo começo ou a ascensão desde um nível de existência inicial, que é abandonado, para outro nível superior que é assim alcançado. Nas sociedades iniciáticas a iniciação é um tipo de cerimônia na qual é introduzido um novo membro após alguma tarefa ou ritual particular que envolve a condução do novato (ou também chamado profano, neófito, etc.) por um membro veterano do grupo, e costuma consistir na exposição de novos conhecimentos que podem ser segredos dessa sociedade iniciática. Nesses cerimoniais destacam-se o aprendizado de valores fundamentais para a vida no nível seguinte onde o iniciado deve aprender a se fortalecer com o isolamento, sobreviver em condições precárias, estar preparado para as dificuldades da vida, etc. Se observamos atentamente, estamos rodeados por processos de iniciação. Ser batizado numa certa religião, entrar numa universidade, ingressar numa ordem profissional, etc. são todos processos iniciáticos diferentes, porém apenas o primeiro é de caráter esotérico. Nesse caso, o esoterismo é o conjunto de tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões – ou mesmo das fraternidades iniciáticas – que buscam transmitir um rol acerca de determinados assuntos que dizem respeito a aspectos da natureza da vida que estão sutilmente ocultos. Popularmente, o esoterismo dá a ideia de transmitir um conhecimento enigmático ou incomum, sempre de maneira oculta. Segundo alguns pesquisadores, o esoterismo está relacionado com aquelas doutrinas cujos princípios e conhecimentos não podem – ou não devem – ser vulgarizados e, por conta disso, eles devem ser transmitidos apenas aos membros do grupo que formam uma sociedade iniciática particular.

Então, no caso de uma iniciação esotérica, ela deve estar relacionada com a morte (metafórica) do individuo atual e com o seu renascimento dentro da sociedade iniciática como o seu mais novo membro. Dentro dessa ordem iniciática esotérica, ele vai se submeter a um sistema de graus de conhecimento que permitam que seus pares mais antigos possam identificar a sua evolução didática relacionada a estudos geralmente ligados à filosofia e à metafísica e redigidos com diferentes objetivos.

Tenho vivenciado essa morte e esse renascimento iniciático em diversas oportunidades. Considero que meu lado esotérico é tão intenso quanto o meu lado científico. Há mais de vinte anos ingressei na Sagrada Ordem do Temple e há quinze entrei na Sublime Ordem Maçônica, estando nesta última jurisdicionado ao GOSP (ou Grande Oriente de São Paulo) e federado ao GOB (ou Grande Oriente do Brasil). Desde 2016 estou me desempenhando como presidente da minha Loja, posição que internamente denominamos de Venerável Mestre. Além disso, há mais de dez anos recebi todos os graus do Reiki. Por conta disso, sou triplamente Mestre (Mestre Templário, Mestre Maçom e Mestre Reiki). Participo ativamente dessas três atividades desde que fui iniciado em cada uma delas. Compartilho esse ambiente esotérico com as minhas atividades religiosas (que não são poucas, mas muito discretas) e com a minha vida de docente e cientista no que considero um conjunto de atividades que se complementa de maneira perfeita.

Considero-me um ser tanto racional quanto intuitivo, o que me permite um trânsito tranquilo entre áreas tão diferentes. Mas é fundamental mencionar que o meu porto seguro em todas as áreas (todas!) é a ciência. Então, embora a iniciação esotérica seja geralmente – e para a maioria das pessoas – uma experiência subjetiva, para mim foram todas experiências bem objetivas. Como pode ser isso? Simples! Procurei encontrar a justificativa e o fundamento científico – que sempre existe – de cada etapa do processo iniciático, mas que quase nunca é explicado abertamente. Então a minha adesão individual ao sistema simbólico de cada sociedade iniciática foi através da razão, do conhecimento e do entendimento, e não através de uma fé cega e dogmática como acontece em geral.

Mas como é possível conciliar conceitos puramente esotéricos com ciência ortodoxa? Novamente isso é um processo simples, mas onde o iniciado precisa conhecer profundamente (através de muito estudo formal) os fundamentos de ambas as partes tanto da esotérica quanto da científica envolvidos num assunto específico. Por exemplo, quando aplico o Reiki (fator esotérico), sempre considero a sua energia como possuindo determinado comprimento de onda (ou seja, possuindo uma cor específica) de acordo com o meu objetivo e, na hora da aplicação, visualizo a ocorrência do efeito físico desejado (fator científico). Para explicar em que consiste esse efeito físico vamos considerar como exemplo a técnica denominada de terapia fotodinâmica (TFD) que vem sendo utilizada com enorme sucesso no tratamento de diferentes doenças neoplásicas, degeneração macular da retina, psoríase, arteriosclerose, doenças virais como herpes, doenças bacterianas, micoses, tratamentos odontológicos e dermatológicos como acne, etc. A TFD é uma reação fotoquímica associada a três fatores: uma substância fotossensibilizante, uma fonte de luz e oxigênio. De maneira simplificada, podemos dizer que a TFD consiste na administração tópica ou sistêmica de um agente fotossensibilizador não tóxico (os mais utilizados são as classes das porfirinas, clorinas e ftalocianinas) seguido da irradiação por luz de comprimento de onda adequado (geralmente através de um feixe de laser). O agente fotossensibilizador reage com as moléculas de oxigênio da célula, levando à produção de radicais livres, ou transferência de energia ou oxigênio, levando à produção de oxigênio do tipo singleto, causando desordem na parede celular e danos no DNA induzindo a morte celular e destruição do tecido doente. Este é então o fator científico associado ao efeito físico e visualizado durante o fator esotérico (aplicação do Reiki). Trocando em miúdos, se aplico o Reiki numa região com câncer o faço visualizando a sua energia como luz de cor apropriada que atinge a área escolhida liberando nela o oxigênio singleto e queimando (literalmente) o tecido canceroso. Ciência civilizatória novamente.

E em relação à socialização do conhecimento iniciático? Por exemplo na Ordem Maçônica dois dos objetivos principais são a busca da verdade e a construção do templo interior através do estudo. A busca da verdade nos permite adquirir um conhecimento extraordinário em qualquer área o que nos faz crescer em todos os aspectos contribuindo, assim, com a construção e o crescimento intelectual, ético e moral do nosso templo interior. Com qual objetivo? Basicamente, os Maçons – dentre muitas outras coisas – procuramos melhorar o mundo externo através do aprendizado no mundo interno (a Loja) o que constitui uma clara socialização do conhecimento iniciático cuja importância e relevância para a sociedade são óbvias.

LB: A ufologia já tem um conhecimento acumulado sobre seu objeto, que se define por ser não identificado. Para finalizar, gostaria de saber se você considera que a Ufologia é uma ciência em construção.

FM: Tenho tido o privilégio de viver uma vida extraordinária, e sou infinitamente grato ao Supremo Criador dos Mundos por essa dádiva. Até as muitas – e sérias – dificuldades (financeiras, médicas, familiares, profissionais, etc.) que passei foram de enorme aprendizado. Ter crescido numa família com altos valores morais e éticos, onde sempre a filosofia, a religião, a cultura, o diálogo, e principalmente o verdadeiro Amor foram sempre cultuados, permitiu tornar-me uma pessoa segura daquilo que sempre quis, e, principalmente do que nunca quis. Essa forte base humanista adquirida na infância e na adolescência foi fundamental para que hoje eu considere ter clara a maioria dos conceitos mais fundamentais e que, em geral, atormentam quase que a totalidade das pessoas. Por conta disso, embora seja profundamente religioso eu já não tenho fé religiosa em relação à existência de um Criador. Alguém tem fé quando tem a esperança (mas não a certeza) de que algo exista. Eu sei que Ele existe e é nesse instante que a fé acaba. Embora conheça excelentes cientistas ateus, no meu caso pessoal é esse conjunto de fatores humanistas (no qual incluo o fator religioso) que me permite trabalhar como cientista tendo a ciência como o meu porto-seguro em tudo. E, sendo cientista, fica relativamente fácil distinguir quando uma determinada área do conhecimento é ou não uma verdadeira ciência. Entretanto, quero deixar clara a importância de continuar a termos uma elevada devoção ao Criador, o façamos ou não através de uma religião específica. Em muitas das minhas palestras menciono como exemplo que se alguém contrai pneumonia dificilmente será curado apenas com orações se não for apropriadamente medicado através de antibióticos (ciência!). Apesar disso, acredito que em algumas – e raríssimas – situações extraordinárias aconteçam casos de verdadeiros milagres (em geral, contradizendo as leis naturais que conhecemos) e a cura se opere. Tenho sido testemunha disso em diversos procedimentos onde foi utilizado o Reiki num processo complementar e não contraditório àquilo que descrevi na questão sete associado com a terapia fotodinâmica (TFD). É nesse momento que a verdadeira fé ressurge e transcende o nosso conhecimento científico e o processo curativo que aconteceu não pode mais ser qualificado como ciência. A alta magia existe, e o nosso mundo e as nossas vidas seriam tremendamente pobres sem ela. Mas no laboratório e no desenvolvimento atual da ciência, embora religião e alta magia possam servir como motivação, inspiração, etc., ambas não tem lugar na explicação final do fenômeno estudado, traduzido através de uma nova equação, lei, etc. Atuar no desenvolvimento científico de maneira isenta de ambos os conceitos como fatores ativos, é o papel do verdadeiro cientista. 

É justamente como cientista que tenho duas convicções. A primeira delas, baseada no conjunto de tudo o que escrevi anteriormente, é que a ufologia atual (formada pelo conjunto das diferentes subáreas mencionadas no terceiro parágrafo da resposta à segunda questão) é uma pseudociência. Acredito que nenhuma dessas subáreas detenha qualquer prova ou evidência científica material que seja conclusiva e incontestável da presença de extraterrestres no nosso mundo atual. Considero que tudo o que existe e que é de domínio público seja apenas indício disso. Alguns deles são, de fato, indícios fortíssimos. Mas não são, a meu ver, provas cientificas irrefutáveis.

Em segundo lugar, assim como as conhecidas pseudociências astrologia e alquimia ao longo dos últimos trinta séculos derivaram nas atuas ciências de astronomia/astrofísica e química, a ufologia também poderá derivar – certamente num período menor – numa verdadeira ciência. Mas isso somente poderá vir a acontecer se a ufologia atual parar de se relacionar com tudo aquilo que não seja científico, evitando participar de grupos onde a maioria das posições dos seus líderes tem a ver com posturas e afirmações totalmente fora da realidade, sem nenhuma fundamentação científica e que eu qualifico, sem nenhum receio, como sendo verdadeiras insanidades. Mais insano é, ainda, constatar a maneira em que plateias inteiras aceitam esses argumentos sem um questionamento minimamente adequado e coerente, num processo de bola de neve descontrolado que não tem nem base fundamental nem limite superior. Do ponto de vista científico, isso é um non-sense total e absoluto. Considero que uma grande parte desses líderes – assim como muitos dos seus seguidores – vem nisso uma oportunidade não só pecuniária, mas principalmente social se projetando nas diversas comunidades e permitindo-lhes obter a importância e a relevância que não obteriam, nem minimamente, exercendo atividades normais. Essa é uma atitude bem conhecida de psiquiatras e psicólogos que eles denominam de egolatria. Ela é facilmente encontrada nesse ambiente de falsos ufólogos caracterizados pela profusão de frases inúteis e sem sentido técnico-cientifico, onde a compulsão para falar com loquacidade exagerada evidencia, em determinados casos, comportamentos típicos de neurose e psicose. E nada mais danoso à pretensão da ufologia de se tornar uma ciência em construção do que aceitar esse tipo de autodenominados ufólogos dentro das mesmas fileiras dos verdadeiros ufólogos.

A ufologia atual será sim, uma ciência em construção, se expurgar dos seus quadros aquelas pessoas ou grupos que de alguma forma se encaixam no parágrafo anterior. Além disso, através de usufruir dos extraordinários avanços atuais das ciências exatas e das diferentes tecnologias, a ufologia deverá focar exclusivamente no seu objeto de estudo e na aplicação rigorosa do método científico. A ufologia tem de começar sendo uma ciência exata, onde os seus aspectos humanistas vão aparecer (também através da aplicação de outro método científico específico) após termos alcançado um entendimento mínimo das leis e princípios que governam o seu objeto de estudo. Áreas humanistas tais como a exopolítica nunca vão substituir nem minimamente a ufologia simplesmente porque seus objetos de estudo são diferentes. Seria como considerar que a atual diplomacia de alguma forma poderia vir a substituir alguma das engenharias, ou a Física ou a Química.

Gostaria de terminar esta entrevista, contando uma história curta – e muito pouco conhecida – do Einstein.  Em 1922, ele entregou como gorjeta a um mensageiro do Imperial Hotel de Tóquio, um bilhete no qual explicava brevemente sua teoria para ter uma vida feliz. Ele escreveu: “uma vida simples e silenciosa traz mais alegria do que a busca do sucesso em um desassossego constante“.